Uma análise da cobertura recente da Lava-Jato

Por Rebecca Veiga

Com recém-completados dois anos no final de março, a Operação Lava-Jato, nome dado à maior investigação da história do Brasil sobre um esquema de corrupção, certas vezes parece criar mais dúvidas do que certezas. Grande parte dos questionamentos são levantados a partir das coberturas supostamente tendenciosas que a mídia faz do caso. Enquanto isso, a população tenta sobreviver ao caos e à instabilidade política, econômica e social que se instaura no país.

A estudante de Engenharia Química, Maria Elisa Berriel, por exemplo, diz se sentir incomodada com a forma que a mídia aborda notícias relacionadas à Operação Lava-Jato. “No geral, acho que a mídia dá mais destaque para certas notícias e ignora outras. Acho que isso não traz ao público uma noção do todo… Tudo fica parecendo uma ‘colcha de retalhos’,” diz ela. “Tem muita gente importante sendo investigada e quase não saem notícias sobre isso… Aí, tem outras pessoas que a mídia não para de falar, até quando não tem mais assunto”.

Em sua monografia, Veja, Época e Lava-Jato: o retrato dos homens que denunciaram a corrupção na Petrobrás, a jornalista Beatriz Steck analisa veículos de comunicação distintos como a Época e a Veja. Ela fez a amostragem das cinco edições das revistas que antecediam a publicação do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, da lista dos nomes dos envolvidos no escândalo. “Eu tinha como foco descobrir o retrato que as duas publicações fizeram dos Procuradores e do Moro, se elas enalteceram e tratam eles como heróis, ou não,” disse Steck.

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Crédito: http://www.lavajato.mpf.mp.br/entenda-o-caso

 

 

A divulgação da lista com os nomes aconteceu no dia 6 de março do ano passado, segundo esta reportagem da Época. A amostragem de Steck, portanto, retoma as cinco semanas anteriores. Ainda assim, a jornalista chegou à conclusão de que a revista Veja enaltecia mais o juiz Sergio Moro, enquanto que a Época, os Procuradores – isso, antes mesmo das investigações contra 50 integrantes do Supremo Tribunal Federal terem seu início decretado.

Porém, ao folhear as duas mais recentes edições de ambas as revistas (Veja: 6 de abril / Época: 4 de abril) e fazer uma análise atenta, percebe-se que não muito se alterou. A capa da Veja com fundo preto e uma única chamada em vermelho-vivo, esboça a foto de Celso Daniel, prefeito de Santo André, que foi assassinado em 2002. A matéria de capa, que possui duas páginas apenas com a foto da cena do crime e o título – Um cadáver na Lava-Jato –, tem quatro páginas. Em nenhum momento, há a reprodução de diálogos com fontes. Como se saísse de um livro, a matéria começa narrando um encontro que José Dirceu, na época coordenador da campanha eleitoral de 2002 de Lula, teve com Delúbio Soares. Segundo Dirceu, “os tucanos” estavam fazendo um dossiê para envolver “gente do PT” – sendo o ex-Presidente Lula citado – no homicídio de Celso Daniel.

A ligação do assassinato com a Lava-Jato surge com uma operação que foi chamada de Carbono 14. Resumidamente, o lavador de dinheiro Enivaldo Quadrado dizia possuir um documento que era seu “seguro de vida contra o PT” e “uma arma que derrubaria o Lula”. Em uma matéria livre de ligações com qualquer tipo de fonte – identificadas ou não –, a revista Veja conta uma história que parece ter saído de especulações da própria revista.

Já a matéria de capa da revista Época, PMDB: A Debandada, tem seu início falando sobre as estratégias que o Vice-Presidente da República, Michel Temer, parece arquitetar em um Brasil pós-impeachment. A matéria da revista, diferentemente da Veja, possui reprodução de falas de fontes – nem todas identificadas, fato. Porém, o posicionamento da Época é claro: ao utilizar expressões como desespero para se referir a atual situação do governo, mostra ser contra a Presidente Dilma. Em uma edição que parece ser dedicada ao “vice decorativo”, além da matéria de capa, Temer aparece como “personagem da semana”.

Em ambas Época e Veja, aparecem propagandas do movimento Não vou pagar o pato, que tomam oito páginas das publicações, pedindo o “IMPEACHMENT JÁ”. Além de ser citada como beneficiada no esquema da Lava-Jato, a Presidente Dilma também é acusada de ter cometido pedaladas fiscais. Esses são alguns dos argumentos pedindo o impedimento da Presidente, conheça outros – a favor e contra – aqui.

Enquanto a Veja prefere não identificar suas fontes, a Época utiliza muitos documentos oficiais; enquanto a primeira possui um conteúdo mais político, ligando cada pauta a Dilma e Lula, a segunda aborda a atuação de Moro e dos Procuradores. Essa foi a conclusão que Beatriz Steck chegou em sua pesquisa, que, embora tenha tratado de eventos do ano passado, continua atual em relação à forma como as revistas abordam a Operação. Durante este último ano, desde a publicação da Lista de Janot, Sérgio Moro apareceu apenas duas vezes estampando a capa da Veja, enquanto Lula saiu 10 vezes e Dilma, oito. Na Época, Dilma aparece cinco vezes, Lula, quatro, e Moro, duas. É possível perceber que, sim, embora ambas as revistas tenham posicionamentos parecidos, o cunho político “anti-petista” da Veja se sobressai em relação à Época.

A “colcha de retalhos”, que Maria Elisa mencionou, por enquanto continua esquecendo de uns e marcando outros…

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Fases da Lava-Jato até hoje. Crédito: Rebecca Veiga

Quer entender melhor a Lava-Jato? Estes links podem ser úteis!

 

Editado por Mateus Souza

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