Por Gabriela Troian
Há cerca de cinco anos, a família da estudante Maíra Vuolo ganhou novos integrantes: quatro cachorros de cor preta. Segundo ela, três deles foram resgatados, mas todos são muito carinhosos. “Nunca tivemos problemas com eles, pelo contrário, sempre foram muito bonzinhos”, afirma a estudante. Apesar de todo o carinho relatado por Maíra, muitas associações e ONGs de proteção animal da Região Metropolitana de Campinas encontram dificuldade para doar cães e gatos pretos.
Não há nenhum estudo científico que comprove algum tipo de “preconceito animal”, mas segundo a diretora de Relações Públicas da Associação Limeirense de Proteção Animal (Alpa), Larissa Maluf, animais de pelagem na cor preta são mais difíceis de serem doados, levando meses para encontrar um lar. “A maioria das pessoas busca adotar filhotes claros e peludos, de porte pequeno. Os cães pretos, de pelagem curta e porte médio são os mais rejeitados”, explica Maluf.
A protetora de animais Ariane Valloto, que atua de forma independente em Limeira (SP), relata a mesma situação. Segundo ela, dos cinco cachorros que possui, quatro são pretos. “Foi justamente pela dificuldade que tive em doá-los que acabei me apegando. A meu ver, os mais escuros costumam ser os mais carinhosos e companheiros”, conta a protetora.
Da mesma forma que a Alpa, a Associação Amigos dos Animais de Campinas (AAAC) também encontra dificuldades na doação de cães e gatos pretos. Por meio de feiras, os voluntários da associação buscam novos donos aos animais resgatados. “O que vemos no dia a dia da proteção animal é uma tendência das pessoas procurarem fazer carinho e pegar no colo os filhotes mais ‘bonitinhos’. Assim aquele que é preto, por exemplo, fica relegado a segundo plano, e certamente ficará mais arredio. Tomamos o máximo de cuidado para que todos tenham carinho e proteção”, aponta o presidente da AAAC, Flávio Lamas.
É exatamente o tratamento que interfere no temperamento do animal, de acordo com a médica veterinária Dra. Júlia Silva. “Não existe nenhum tipo de relação entre a coloração do animal com o temperamento, isso é uma grande bobagem. O que reflete na maneira de agir é a forma como ele é criado. Por exemplo, se um cão é maltratado provavelmente ele terá a tendência a ser mais agressivo, independente de ser claro ou escuro”, ressalta a veterinária.
Mudança de Imagem
Segundo a veterinária, a dificuldade em adotar cães ou gatos pretos é um estereótipo da nossa sociedade. “Isso é uma questão cultural, o nosso padrão estético ainda é o loiro de olhos claros, mesmo nos animais, e essa mudança só vai ocorrer com o passar do tempo”, ressalta Júlia Silva.
Enquanto esta “mudança social” não ocorre, as associações buscam outras formas de atrair novos donos aos cães sem lar. Durante as feiras de adoção, Flávio Lamas diz que os voluntários buscam mostrar para as pessoas a importância de resgatar um animal. “A questão em si é pensar mais no animal do que propriamente na família. Se fosse assim, as pessoas escolheriam aquele animal que necessita de adoção”.
Já Larissa Maluf conta que, ao receber animais pretos, a associação procura divulgar fotos e vídeos descontraídos para atrair novos donos. “Fotografamos estes animais de maneira alegre e divertida. Dessa forma, a primeira impressão negativa não acontece e a pessoa busca conhecer melhor o temperamento do animal”, aponta. Confira mais fotos dessa ação na galeria abaixo.
Para saber mais informações e consultar os animais disponíveis para adoção, visite as páginas das ONGs citadas: ALPA e AAAC.
Editado por Willian Sousa
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