![Foto: Reprodução Gilvan Ribeiro contou envolvimento de Casagrande com as drogas em 248 páginas](https://digitaispuccampinas.wordpress.com/wp-content/uploads/2013/05/casagrandelivro2.jpg?w=1140)
Por Pedro Lopes
O envolvimento com as drogas e a profunda admiração do jornalista por um “personagem muito especial” motivaram Gilvan Ribeiro a escrever a biografia do ex-jogador e comentarista Walter Casagrande Jr., intitulado “Casagrande e seus demônios”, uma referência à uma das fases mais sombrias de um dos líderes da Democracia Corintiana. O livro foi lançado em Campinas, na noite da última terça-feira (14/5), com a presença do autor e biografado na Livraria Fnac, no shopping Dom Pedro.
Um dia antes do evento na livraria campineira, o Digitais PUC-Campinas conversou com Gilvan Ribeiro sobre o processo de produção da obra, o isolamento do autor em uma praia do litoral paulista, os encontros descontraídos com Casagrande e a “fase demoníaca” do ex-jogador. Vinte minutos de conversa com Gilvan são suficientes para concluir que a relação com Casagrande é caracterizada pela amizade e uma admiração que vem desde os anos 1980.
Confira os principais trechos do bate-papo com Gilvan Ribeiro:
Confissões aos sábados
“O contato para a produção do livro começou no final de 2011. Só que eu trabalho muito [Gilvan Ribeiro é jornalista do caderno de Esportes no Diário de São Paulo], então expliquei que poderia me dedicar integralmente ao livro após as Olimpíadas de Londres.Ao longo de todo o período necessário para a produção do livro, tive muitos encontros com o Casagrande. Quando dava, a gente se via, almoçava junto aos sábados no Fidel, um restaurante em São Paulo. Era um clima bem descontraído, tanto que ele fazia algumas confissões sem perceber que o gravador estava ligado.”
Isolamento
“Tive um período de complicação durante a produção do livro por problemas familiares. Quando a situação começou a melhorar, eu resolvi me isolar. Eu já tinha um material bacana, já era suficiente. Me isolei durante um mês na Praia da Almada, em Ubatuba, para me concentrar totalmente no livro. É uma praia com pouco movimento, onde eu estava sozinho. Acordava às 6, 7 horas da manhã. Corria na praia, voltava, fazia alongamentos e começava a escrever. Escrevia em média 8 horas por dia.”
Fase sombria de Casagrande
“Acima de tudo, tenho uma relação de amizade com o Casagrande. Antes do livro, sempre encontrava com ele pra bater um papo e fazer a coluna para o Diário de São Paulo. Quando ele entrou na fase mais aguda do envolvimento com as drogas, teve uma festa na casa dele. Ele estava muito magro. Já estava amanhecendo o dia, e eu esperei todo mundo ir embora para alertá-lo de que, qualquer hora, ele seria internado involuntariamente. Ele chegou a ficar um mês e meio trancado no apartamento, só consumindo heroína e cocaína. Pouco antes do acidente que ganhou repercussão nacional, ele ficou mais de dez dias sem dormir, sem comer e usando droga.”
Demônios
“O Casagrande lê bastante. Ele escolhe um tema e começa a estudar. Em um determinado momento, ele começou a estudar os demônios bíblicos. Como a heroína é uma droga alucinógena, os demônios, na cabeça dele, ganharam vida. Eram seres gigantescos e horrendos, que, de repente, passaram a conviver com ele no apartamento. Além dos demônios, ele tinha uma visão de uma moça que aparecia refletida na geladeira. Ele ficava apavorado e achava que aquela moça tinha sido morta numa festa antes de ele morar ali. Ele tentou benzer o apartamento e chegou a ir para um hotel. No fim das contas, foi para uma clínica de reabilitação em Itapecerica da Serra.”
Personagem especial
“Trata-se de um cara genial, um personagem muito especial. Um grande atacante, que tinha presença de área, tanto que chegou a jogar no meio-campo. Além disso, tinha uma inteligência em outras áreas. Costumo falar que ele é um ícone da geração dos anos 1980. Até pelo envolvimento com a Democracia Corintiana, ele se colocou em uma posição de liderança. Era um cabeludo, roqueiro, sempre dando a cara a tapa. Isso gerava uma identificação muito grande.”
Editado por Marina Di Nardo e Larissa Pagliarini