Casagrande lança “seus demônios” em Campinas

Gilvan Ribeiro contou envolvimento de Casagrande com as drogas em 248 páginas
Gilvan Ribeiro conta do envolvimento de Casagrande com as drogas em 248 páginas

Por Pedro Lopes

O envolvimento com as drogas e a profunda admiração do jornalista por um “personagem muito especial” motivaram  Gilvan Ribeiro a escrever a biografia do ex-jogador e comentarista Walter Casagrande Jr., intitulado “Casagrande e seus demônios”, uma referência à uma das fases mais sombrias de um dos líderes da Democracia Corintiana. O livro foi lançado em Campinas, na noite da última terça-feira (14/5), com a presença do autor e biografado na Livraria Fnac, no shopping Dom Pedro.

Um dia antes do evento na livraria campineira, o Digitais PUC-Campinas conversou com Gilvan Ribeiro sobre o processo de produção da obra, o isolamento do autor em uma praia do litoral paulista, os encontros descontraídos com Casagrande e a “fase demoníaca” do ex-jogador. Vinte minutos de conversa com Gilvan são suficientes para concluir que a relação com Casagrande é caracterizada pela amizade e uma admiração que vem desde os anos 1980.

Confira os principais trechos do bate-papo com Gilvan Ribeiro:

Confissões aos sábados
“O contato para a produção do livro começou no final de 2011. Só que eu trabalho muito [Gilvan Ribeiro é jornalista do caderno de Esportes no Diário de São Paulo], então expliquei que poderia me dedicar integralmente ao livro após as Olimpíadas de Londres.Ao longo de todo o período necessário para a produção do livro, tive muitos encontros com o Casagrande. Quando dava, a gente se via, almoçava junto aos sábados no Fidel, um restaurante em São Paulo. Era um clima bem descontraído, tanto que ele fazia algumas confissões sem perceber que o gravador estava ligado.”

Isolamento
“Tive um período de complicação durante a produção do livro por problemas familiares. Quando a situação começou a melhorar, eu resolvi me isolar. Eu já tinha um material bacana, já era suficiente. Me isolei durante um mês na Praia da Almada, em Ubatuba, para me concentrar totalmente no livro. É uma praia com pouco movimento, onde eu estava sozinho. Acordava às 6, 7 horas da manhã. Corria na praia, voltava, fazia alongamentos e começava a escrever. Escrevia em média 8 horas por dia.”

Fase sombria de Casagrande
“Acima de tudo, tenho uma relação de amizade com o Casagrande. Antes do livro, sempre encontrava com ele pra bater um papo e fazer a coluna para o Diário de São Paulo. Quando ele entrou na fase mais aguda do envolvimento com as drogas, teve uma festa na casa dele. Ele estava muito magro. Já estava amanhecendo o dia, e eu esperei todo mundo ir embora para alertá-lo de que, qualquer hora, ele seria internado involuntariamente. Ele chegou a ficar um mês e meio trancado no apartamento, só consumindo heroína e cocaína. Pouco antes do acidente que ganhou repercussão nacional, ele ficou mais de dez dias sem dormir, sem comer e usando droga.”

Demônios
“O Casagrande lê bastante. Ele escolhe um tema e começa a estudar. Em um determinado momento, ele começou a estudar os demônios bíblicos. Como a heroína é uma droga alucinógena, os demônios, na cabeça dele, ganharam vida. Eram seres gigantescos e horrendos, que, de repente, passaram a conviver com ele no apartamento. Além dos demônios, ele tinha uma visão de uma moça que aparecia refletida na geladeira. Ele ficava apavorado e achava que aquela moça tinha sido morta numa festa antes de ele morar ali. Ele tentou benzer o apartamento e chegou a ir para um hotel. No fim das contas, foi para uma clínica de reabilitação em Itapecerica da Serra.”

Personagem especial
“Trata-se de um cara genial, um personagem muito especial. Um grande atacante, que tinha presença de área, tanto que chegou a jogar no meio-campo. Além disso, tinha uma inteligência em outras áreas. Costumo falar que ele é um ícone da geração dos anos 1980. Até pelo envolvimento com a Democracia Corintiana, ele se colocou em uma posição de liderança. Era um cabeludo, roqueiro, sempre dando a cara a tapa. Isso gerava uma identificação muito grande.”

Editado por Marina Di Nardo e Larissa Pagliarini

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