Mulheres de Campinas querem ônibus exclusivo para frear abuso sexual

Bruno Teixeira / Digitais

Bruno Teixeira

Cerca de mil pessoas já assinaram  a proposta da comerciante Neusa Concetta. Iniciado no último dia 2 abril, o abaixo-assinado recomenda ao secretário de transportes de Campinas, André Aranha Ribeiro, a criação de uma linha de ônibus exclusiva às mulheres na região do Campo Grande. O expresso mulher foi criado com o intuito de reduzir os casos de assédio sexual nos veículos do transporte público da cidade.

Bruno Teixeira / Digitais
Linha 2.12 faz o trajeto pretendido pelo Expresso Mulher

O Campo Grande está localizado na zona Noroeste da cidade. Por não ser uma denominação oficial do município é difícil estabelecer quantos bairros fazem parte do setor, ou mesmo diferenciar o que é Campo Grande e o que é Itajaí, outra concentração de bairros da zona Noroeste. O que é fato, estabelecido pelo IBGE no senso populacional de 2010, é que a concentração de moradores nessa área é a segunda maior de Campinas, atrás apenas do Centro. O transporte público é um tópico à parte na vida dos moradores. “Pego seis ônibus por dia para poder trabalhar”, conta a doméstica Maria Helena Gouvêa. Atualmente 100 veículos atendem a região.

Quem desembarca no terminal Campo Grande, localizado na rua dr. Nelson d’Ottaviano logo vê o supermercado São João, gerenciado pela comerciante Neusa Concetta. “As mulheres passam aqui na loja e reclamam das situações que são submetida nos ônibus”, conta a comerciante. “Isso me motivou a criar o Expresso Mulher”. A ideia do projeto não requer grandes mudanças estruturais. Um dos veículos que fazem a ligação entre o terminal e a região central da cidade deixaria de ter a característica cor vermelha e assumiria uma roupagem rosa. O carro sairia durante os horários de pico e suas passageiras seriam exclusivamente do sexo feminino. Segundo a idealizadora, o projeto fez sucesso. “Elas parecem muito felizes, contam que apoiam muito o projeto”. É o caso da doméstica Heleonora Prado que relata já ter passado por uma experiência de abuso em um ônibus. “Um rapaz ficou quase pelado perto de mim. Eu tive que começar a gritar para expulsarem ele”, lembra.

Neusa Concetta (Arquivo Pessoal)
Neusa Concetta (esquerda) colheu mil assinaturas em pouco mais de um mês.

Outras Experiências

A exclusividade de sexo no transporte público não é novidade. Uma lei de 2006 garante a existência de vagões exclusivos para mulheres no metrô da cidade do Rio de Janeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado, não existe um balanço sobre os casos de violência. A justificava da SSP foi o número considerado “inexpressivo” de denúncias em casos como esse. Neusa Concetta reitera essa omissão de denúncias. “As mulheres ficam revoltadas mas sentem que não tem com quem reclamar”, explica. A doméstica Heleonora Prado justifica. “Eu mal tenho tempo para ficar com a família, se for reclamar toda vez que fazem algo comigo, eu não vivo.”
A Delegacia da Mulher de Campinas foi procurada pelo Digitais, mas até o momento da publicação dessa reportagem não havia se pronunciado.

No México, o resultado é positivo. Criado em 2008, o programa “Viajaremos Seguras” gerou reduções drásticas no índice de violência contra a  mulher no transporte público. Em 2007, eram de em média 2,9 mil por ano. Segundo a prefeitura da Cidade do México, na última medição realizada, em 2010, o índice caiu para zero.

Obstáculos

Para ser aprovado, o projeto vai ter que passar por alguns obstáculos no caminho. O projeto de instalação dos chamados BRT’s, novo modelo de ônibus que deve ser instalado até Julho, já está em execução e precisaria ser reavaliado para eventuais mudanças.
Caso o projeto seja aprovado para apenas um veículo da linha 2.12 (que faz o trajeto entre o Campo Grande e o Centro), a espera passaria de 1h30 para o veículo exclusivo (Veja infográfico).

As propostas vão ser apresentadas à Secretaria de Transportes nesta segunda-feira (7). Segundo a assessoria da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), só será possível dar um parecer sobre a viabilidade do projeto após a entrega do documento.

Bruno Teixeira / DigitaisEditado por Fernando Zanaga

1 comentário

  1. Muito boa matéria!! Se for fazer um levantamento das denúncias (BOs) de “enconxamentos” certamente vai se observar o crescimento do número de casos. Uma reclamação recorrente é o fim do quadro do metrô no Zorra Total, pois já vi entrevistas de pessoas que acham o programa incita esse tipo de coisa.
    Mas na verdade, o segredo mesmo é um só: Veículos maiores, mais veículos e construção de linhas de metrô

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