Nem tudo é festa: mercado de DJ’s em Campinas

Por Rafaela Galvão e Ricardo Costa

O último domingo de setembro pode não significar nada para a maioria das pessoas, mas, na cidade de São Paulo, a data celebra o Dia Municipal da Música Eletrônica. Instituído por meio da PL 58/05, pela vereadora Soninha Francine em 2007, o dia valoriza a música eletrônica, colocando-a como uma das mais importantes manifestações culturais. Em Campinas, no final de agosto, foi aprovada a proposta de inserir o Dia Internacional do DJ, celebrado no dia 9 de março, no calendário municipal. Apesar da cidade ser menor do que São Paulo, de acordo com o anuário da Rio Music Conference (RMC), a cidade interiorana está catorze posições à frente da capital paulistana em relação ao número de DJs, ocupando a 6ª posição no ranking.

A profissão de DJ é recente quando comparada a outras mais tradicionais. Ainda assim é mais antiga do que se pensa. Há relatos de que tenha surgido na década de 80 e, nos últimos anos, o número de profissionais trabalhando na área aumentou. André Motta é DJ e, atualmente, professor da AIMEC (Academia Internacional de Música Eletrônica), em Campinas. Ele começou a carreira em 1989, quando tornou-se residente em uma casa noturna. Isto é, era DJ fixo do lugar. Porém, antes, já trabalhava na área. “Naquela época, nós buscávamos a residência. Assim, você não pode tocar em outra casa. Não existiam muitos lugares para tocar e os DJ’s não eram conhecidos”, relembra Motta. Ele também explica que, até o momento, as pessoas não sabiam o que era ser DJ. Além disso, eram poucas pessoas disputando as casas e clubes existentes.

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(Créditos: Ricardo Costa)

Ingressando na vida profissional

Pesquisas apontam que cerca de 35,1% dos DJ’s ganha entre R$ 100,00 e R$ 200,00 por apresentação e, em média, R$ 900,00 por mês. Mesmo com condições de mercado desfavoráveis, Gabriela Halter, de 20 anos, encontrou oportunidade na área. A jovem precisou trancar a faculdade por não ter como pagar e começou a trabalhar como DJ.

“Foi tudo muito sem querer. Eu frequentava um lugar e fiquei amiga de alguém que produzia festas lá. Costumava dar alguns palpites nas músicas, até que me convidaram pra tocar um dia, fiz contato com outras pessoas e elas me chamaram para tocar em outros lugares”, relata Gabriela. Como não existe nenhum curso de graduação para DJ’s no Brasil, quem quer se profissionalizar precisa buscar por cursos. André Motta,  da AIMEC, relata que a escola forma cerca de mil alunos por ano. Em Campinas, 200 profissionais formam-se neste mesmo período. No entanto, segundo ele, há uma seleção natural de mercado. Motta também explica que o profissional precisa, além de tudo, pensar como empreendedor. “O maior erro é achar que só saber tocar é suficiente”, alerta ele.

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(Créditos: Ricardo Costa)

Felipe da Cruz, também conhecido como Felipe Lacroix quer seguir na carreira de DJ. Nas horas vagas, o cientista da computação estuda, em seu quarto, para ser DJ e tocar em grandes festivais de música eletrônica. Para ele, não é apenas um hobby, o jovem leva a sério e procura atualizar-se sempre. Os vários livros sobre o assunto geralmente são importados e em inglês, exigindo que Felipe gaste um pouco mais para ter acesso a eles. “Eu acabo gastando muito em livro, eu acredito que eles vão dar aquele start para eu fazer coisas mais parecidas com as dos profissionais”, comenta. Como Felipe Lacroix toca em algumas festas universitárias e já teve oportunidades em algumas casas noturnas da cidade, mas segundo ele, “não há tantas casas aqui para o tanto de DJs que tem espalhado, vários deles são profissionais, é um mercado muito competitivo”.

 

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Os livros que Felipe compra dificilmente são encontrados no país (Créditos: Ricardo Costa)

Manter a imagem e atingir as redes sociais é fundamental para quem quer seguir essa carreira. “Eu já tinha alguns conhecimentos de mixagem, de tempo, apenas de observar alguns amigos DJS tocarem, então comecei a fazer set´s para os amigos, e o primeiro set que eu fiz, ganhou proporções inesperadas, com menos de 1 mês eu tinha mais de 2 mil plays na minha pagina no soundcloud”, conta Renan Zanini, analista de Recursos Humanos. Apesar de Zanini ser DJ residente em um clube da região, ele sabe bem a situação do mercado para a profissão.

Pedras no caminho

André Motta afirma que ter começado com pouca idade anos foi uma das maiores dificuldades. “A dificuldade no meu início foi provar minha competência diante do mercado pois comecei muito novo. Precisei mostrar minha capacidade para ganhar a confiança do meio”, relata. Já para o DJ Renan Zanini, os empecilhos estão na flexibilidade do mercado: “o mercado de DJ’s em Campinas é muito fechado, pois a noite de Campinas é muito fechada. Hoje, se pararmos para pensar, a quantidade de casas noturnas é pouca para o tamanho da cidade. Acabamos explorando mais as cidades vizinhas”. Os anos passaram, mas as dificuldades permaneceram. No entanto, são diferentes de anos atrás. O cenário mudou. Motta explica que antes os DJ’s buscavam residência, o que não reflete mais a realidade atual. Uma mudança positiva, de acordo com o professor, é que a partir do momento em que as pessoas deixaram de ir às casas noturnas pelos atrativos do lugar, a música e, consequentemente, os DJ’s ganharam valorização.

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(Créditos: Ricardo Costa)

Troca de carreiras

DJ há quinze anos, Juliano Ramalho demorou algum tempo para dedicar-se somente à essa carreira. Ele conta que seus pais dimensionavam seu interesse pela música como um hobby, até ele desistir do emprego na área de usinagem e metalúrgica e viver de ser DJ e de produções musicais. Isso tudo aconteceu após um acidente em que o ex-usineiro machucou o ombro. Desde então, sua vida mudou: “comecei uma carreira nova do zero”. Para ele, foi uma mudança radical, porém positiva. “Em algumas épocas, antigamente, cheguei a trabalhar de segunda à segunda por 12 horas por dia”, relembra. Apesar de precisar tocar à noite, ele relata que sua qualidade de vida melhorou e tem mais flexibilidade de horários hoje em dia. Juliano vive do que gosta, mas, como muitos, não é apenas DJ. Ele também trabalha em uma faculdade e em uma escola de música para manter-se. O professor André Motta explica que isso é normal, pois, atualmente, é raro quem consegue viver apenas de música eletrônica.

O conselho de Tatto Salla, que já tem experiência no mercado e é dono de uma das casas da região é que “o DJ precisa ter conhecimento musical e cultural, tem que saber como funciona a evolução de um line up, se não souber só me perguntar, informação existe para ser compartilhada, ninguém nasce sabendo tudo, o aprendizado é diário. É um cenário sólido, como em todas as vertentes existem os altos e baixos, mas sempre tem os amantes da música eletrônica que não abandonam como eu”.

Editado por Pedro Alves

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