Por Aline Domingos
O cemitério Aléias e Flamboyant, localizados na região do Gramado em Campinas, virou palco de uma exposição inédita a fim de desmistificar o ambiente. Chamada “Mosaicos da Vida”, a mostra reúne esculturas em bronze do professor, escultor e fotógrafo Santos Lopes.
As obras estão expostas em dois ambientes: dez obras apresentadas na sala de estar do Aléias e oito esculturas na área externa do Flamboyant. O objetivo dessa exposição é quebrar os paradigmas de que cemitério é apenas um lugar de tristeza e desconforto. A exposição veio para mostrar um outro lado que os cemitérios podem ter.


Segundo o artista Santos Lopes, 68, a exposição intitulada “Mosaicos da Vida” tem o intuito de estimular a vida e proporcionar pensamentos e sentimentos positivos para que as pessoas possam sair dali com algo bom em seu interior.
“Eu chamei de “Mosaicos da Vida” justamente para que as pessoas que estão amarguradas e que entram aqui nesse lugar com uma dor possam olhar alguma coisa que lhes faça bem e que lhes diga “mas a vida vale apena, vamos viver enquanto podemos”, pois temos uma missão que é viver, se não tivermos mais nada pra fazer, pelo menos viver e tentar ser feliz é uma obrigação de todos.”
Em 2011, Santos foi contratado para fazer uma escultura na entrada dos cemitérios. Agora em 2016 ele acredita que algumas pessoas perguntavam sobre sua obra e isso despertou o interesse da direção da Comunidade Religiosa Santa Rita de Cássia para realizar essa mostra. Além disso, também havia uma vontade da instituição de tornar o lugar não só para momentos tristes, mas criar momentos de exaltação e mostrar a beleza em algo que eles gostassem, e isso incluiu as obras de Santos Lopes. Isso o deixou muito feliz, pois além de divulgar seu trabalho e trazer alegria em momentos tão tristes, ele adora cemitérios.
“Eu adoro cemitérios, tenho uma visão da vida muito própria e da morte também. É doloroso sim, nós queremos fazer tantas coisas sempre e de repente somos ceifados pra uma outra dimensão nosso espírito vai para uma outra dimensão, aquilo que está dentro da gente que é muito mais valioso muito mais impressionante que o corpo da gente. Eu acho que é interessante essa exposição por isso. Eu viajo e vou conhecer cemitérios, na França, na Inglaterra, fico horas lá. Sabe o que adoro? Entrar no cemitério e ficar olhando e ver o que as pessoas dizem sentir, ali existem bons fluidos, não tenho receio, acho um lugar bom, calmo e tranquilo, onde realmente se respira uma paz, uma tranquilidade. Claro que sinto quando morre um familiar meu, mas eu acho que ele já está indo e algum dia eu vou também.”

Algumas obras

“Quando fiz o pescador, fiz em cima de um andaime, porque ele é a cabeça de um monumento de 4 metros e eu fiz aquilo, era três horas da manhã. No meu ateliê, ouvindo música clássica e eu sozinho em cima do andaime. De repente fui fazendo e tive que me afastar, e quando me afastei e olhei eu disse “onde é que tu andavas, que tu viestes tão rápido?” e tava pronto!
Se você olhar ele tem uma expressão confiável, mas ao mesmo tempo forte, você seguiria uma pessoa dessas, pois ele é honesto, ele mana honestidade, força, uma determinação e credibilidade que é necessária nos homens que a gente segue.”
– Santos Lopes

“Quando faço uma bailarina como essa, capricho italiano, ela transcende a musica. É como se ela tivesse dando um salto para além da música. A música assim como a arte, por vezes não chega para o que a gente sente, a arte ainda é pouco para mim”
– Santos Lopes

Essa escultura é uma réplica menor do monumento encontrado na entrada do cemitério, que foi comprada em 2011 pela comunidade Santa Rita de Cássia.
O Artista
Nascido em Portugal, veio para o Brasil em 1975 e há cerca de 25 anos tem o seu ateliê em Valinhos. Aos 15 anos criou três esculturas sem nunca ter tido contato com esse ramo artístico. A partir de então, não parou mais e suas obras são encontradas em vários países como França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Suíça, Egito, Estados Unidos, Alemanha, entre outros.

“O meu trabalho fala muito da parte interiorizada da gente, ele fala muito do íntimo porque é isso que eu sou e é isso que eu sinto. Eu sinto a vida assim. O meu trabalho é verdade, é uma coisa que acontece na minha vida de alguma forma. Eu olho alguma coisa e aquilo me sensibiliza. Então eu crio”. – Santos Lopes
Infográfico: Aline Domingos
Editado por Mathias Sallit