Por Izabela Reame e Vitor Domingues

A Copa do Mundo de 2014 não serviu apenas para expor a falta de qualidade técnica dos jogadores brasileiros e o vexame histórico da seleção canarinha contra a campeã Alemanha. O evento também trouxe benefícios, principalmente, para alguns clubes, que tiveram que modernizar seus antigos estádios, para enquadrar-se em Arenas padrão FIFA. Mas, não foi preciso ser um dos estádios sede da Copa para reformar e reformular seu estádio. Por exemplo, Grêmio e Palmeiras, que não sediaram nenhum jogo, mesmo assim, ambos os clubes construíram com ajudas de terceiros uma nova e moderna casa.
Dois exemplos de arenas rentáveis são a Arena Corinthians e Allianz Parque, dos rivais históricos, Corinthians e Palmeiras, respectivamente. Ambas foram inauguradas ano passado, e neste ano já mostraram seu valor. Primeiro, no âmbito esportivo, visto que o Corinthians sagrou-se campeão brasileiro e os rivais de verde, o título da Copa do Brasil, com o jogo decisivo sendo em sua nova arena.
Melhores médias de público
Fora que no Brasileirão as duas equipes estão entre as três melhores equipes com média de público. Segundo o portal do Globo Esporte, Corinthians é a primeira com 34.149 torcedores em sua arena, totalizando uma ocupação média de 79%. O Flamengo, que joga no Maracanã e é mais um caso de arena, sendo inclusive palco da final da Copa de 2014, ficou em segundo lugar com 31.897 de público, porém, sua ocupação média é de apenas 42%. Já o Palmeiras, teve uma média de 29.633 torcedores, mas com uma ocupação média de 68%, muito acima do rubro-negro carioca.
Seguindo a lista, temos Grêmio, Atlético-MG, Cruzeiro, São Paulo, Internacional, Atlético-PR e Fluminense. Desses clubes, apenas o galo e o tricolor não jogam em arenas. O Alvinegro de Minas joga na acanhada Arena Independência, um estádio construído para receber jogos da Copa do Mundo de 1950 que, inclusive, recebeu a seleção uruguaia, campeã daquela edição. O Estádio passou por um reforma e foi inaugurada em 2012. No Horto, como é chamado em função de estar situado no bairro Horto, joga-se o América-MG e o Atlético-MG. Já o São Paulo joga no gigantesco, porém pouco moderno, Morumbi.

Qualidade do uso das arenas
O professor Sérgio Peres, especializado em Marketing Esportivo, enxerga que as arenas são rentáveis, mas que os clubes não sabem usar. “A Arena é um negócio por si só. Naturalmente ela precisa de uma gestão exclusiva, não necessariamente pelo clube, pode ser por terceiro. Eu acho que o clube tem tanta coisa para se pensar hoje, para ser melhorada, para trabalhar em evoluir sua gestão, como projetos de base e internacionalização da marca. Mas, a fonte de receita acaba sendo em um segundo momento. A partir disso, acredito que para gerir a arena precisa ser por um empresa terceirizada e com experiência.”, afirma Sérgio.

Confira parte da entrevista com Sérgio.
Diferencial das arenas
Dos dez maiores públicos do Brasileirão de 2015, apenas um jogo não foi em uma arena, que foi o duelo entre São Paulo e Coritiba no Morumbi, 59.482 pessoas presenciaram a vitória tricolor por 3 x 1 no famoso “horário do bafo”, que tem esse nome por conta do jogo ser às 11 horas do domingo. O maior público aconteceu no jogo entre Flamengo e Coritiba, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. O Flamengo vendeu o mando de campo para esta partida, prática comum para reverter um pouco o dinheiro de alguns “elefantes brancos”. 67.011 torcedores presenciaram a vitória do Coritiba por 2 x 0. A capacidade foi de 96%, a maior entre todos os jogos.
As arenas têm ajudado muito os clubes no quesito receitas, já que essa modernidade é um atrativo a mais para os torcedores. E os clubes, estão percebendo isso e criando programas eficientes e atrativos de sócio torcedor. Por sinal, os clubes que mais cresceram nesse quesito este ano foram Corinthians e Palmeiras, com 71.157 e 62.456, respectivamente, segundo o portal Histórico Futebol Melhor. Esse aumento está atrelado a visão mercadológica à equipe e à empolgação da torcida por conta dos novos estádios. Fechando o Top 5, encontra-se o São Paulo, Sport e Internacional. Todos, com exceção do time do Morumbi, possuem arenas.

O ranking geral do Sócio Torcedor também prova a importância da arena. O primeiro colocado é o Internacional, que tem como estádio o moderno Beira-Rio, reformado recentemente para ser uma das sedes a Copa do Mundo. O clube gaúcho possui 147.854 sócios. O Inter por sinal, é o sexto do mundo neste quesito, sendo superado apenas pelos poderosos Benfica-POR, Bayer de Munique-ALE, Arsenal – ING e os rivais espanhóis Real Madrid e Barcelona. No Brasil, o colorado é seguido de perto por Corinthians e Palmeiras, com 136.196 e 126.903 torcedores, aumento motivado à inauguração das novas arenas. O rival do Inter, também está nesta lista na 4° colocação, com 87.987 sócios e mandando seus jogos na Arena Grêmio desde a inauguração em 2012.

Tema ‘Arena’ em destaque
A estudante de jornalismo, Letícia Oliver, vai apresentar esse ano o seu livro “Arquibancada – Território de espetáculo e consumo”, que será o trabalho de conclusão de curso. Em seu livro, ela falou com mais de 50 pessoas a favor e contra a elitização dos estádios, e tem sua visão sobre o assunto, como conta: “Com o advento das arenas e esse modelo de elitização atrelado ao tal do ‘futebol moderno’, pode-se dizer que o frequentador de hoje em dia é um cliente, que não quer apenas ver um simples jogo de futebol. Ele quer mais: quer conforto, interatividade e mais uma série de coisas que transformam aquilo em um verdadeiro espetáculo, um evento completo de entretenimento esportivo. Enquanto isso, nos estádios tradicionais, a essência do que, historicamente, sempre foi o futebol ainda resiste. (…) Os valores se inverteram a partir dessa modernização e é justamente por isso que existe o debate entre ser a favor ou contra o futebol moderno, já que esse novo modelo favorece muitos, mas desagrada tantos outros.”

Opiniões dos torcedores
Editado por Fábio Reis