Obesidade aumenta em 23% no Brasil

Por Caren Godoy e Izabela Eid

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A previsão é de que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e cerca de 700 milhões, obesos. No Brasil o índice de obesidade é estável, mas a cada ano o número de brasileiros com sobrepeso aumenta. Uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, Vigitel 2014, alerta que 52,5% da população adulta é atingida pelo excesso de peso. Houve um crescimento de 23% dessa taxa, já que há nove anos esse número era 43%.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, os jovens representam 17,9%, dos obesos do país, embora este percentual não tenha sofrido alteração nos últimos anos, esse dado é alarmante, pois pessoas que estão acima do peso tem mais chances de desenvolver doenças crônicas, como colesterol, hipertensão e diabetes, que são responsáveis por 72% das mortes no Brasil.

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Infográfico: Caren Godoy

Talita Gomes Espíndola, 27 anos, descobriu aos 12 que tinha tendência a ganhar peso, por esse motivo, ela sempre fez acompanhamento com endocrinologista e manteve uma vida de treinos de natação regrada. Porém, depois de machucar o ombro, aos 18 anos, Talita teve que deixar de lado a natação, e a partir daí começou a ganhar mais peso, ela chegou a ficar 17 quilos acima de seu peso ideal.

Com o abandono dos treinos de natação e a chegada do vestibular, ela começou a sofrer pressão psicológica dos pais para cursar medicina, fato que fez com a jovem descontasse toda sua ansiedade na comida. “Passei a comer tudo o que eu queria, porque quando treinava natação eu tinha uma alimentação regrada, e como não estava mais treinando e não tinha ninguém no meu pé eu comecei a comer tudo o que eu tinha vontade”.

Depois de passar em medicina, a jovem entrou em depressão, pois não se sentia feliz com a escolha do curso. “Eu estava fazendo algo que não queria. Estudava demais, mas não estava feliz e sim frustrada, e acabava mais uma vez descontando tudo na comida”. Nesse período, a estudante chegou a pesar 110 kg. Depois disso, Talita voltou para Campinas e decidiu cursar Educação Física, mas a pressão da família combinada com a ansiedade e angustia fizeram com que ela engordasse ainda mais, chegando a pesar 146 kg.

Por conta disso, sua endocrinologista sugeriu que ela fizesse uma gastroplastia, porém a estudante não gostou da ideia, já que não achava que o sobrepeso era uma doença, ela encarava aquela situação como falta de vergonha na cara. Embora gostasse muito do curso de educação física, por causa do excesso de peso, a jovem começou a se desestimular, pois não conseguia fazer as aulas práticas, “Não tinha condicionamento físico por causa do meu peso, eu me cansava e comecei a sentir algumas dores. Isso começou a me incomodar muito”.

“A sensação que eu tinha era de derrota por ter que fazer a cirurgia, eu falava ‘que absurdo, eu tenho que ter força de vontade, parar de comer e treinar’”

A mudança de atitude veio durante uma viagem que ela fez para a Europa, nesse momento ela decidiu fazer a cirurgia de redução de estomago, pois começou a notar que seu peso estava prejudicando sua locomoção. “Foi então que comecei a pesquisar sobre a cirurgia bariátrica e na mesma época um amigo da família fez e passou muito bem, isso me estimulou ainda mais porque o meu medo era passar mal”.

A cirurgia foi feita em dezembro de 2013, foram 40 dias de dieta liquida, até que ela pudesse chegar aos alimentos sólidos. Talita seguiu todas as recomendações e nunca teve problemas no pós-cirúrgico. Após nove meses, ela voltou com a atividade física, e hoje depois de perder 51 kg, está pesando 95 kg. O objetivo pessoal da jovem é perder mais 22 kg.

“Me sinto com auto estima muito melhor, mais a vontade, voltei a vida social normal que o peso atrapalhava muito. Mesmo estando acima do peso e precisando emagrecer bastante, eu sei que é uma coisa possível”

A atividade física é fundamental para pacientes com sobrepeso, obesidade grau 1 e obesidade mórbida. A cirurgia bariátrica interrompe um processo, então se perde muito peso em seis meses, mas depois vai diminuindo o ritmo. E se perde muita massa magra e tônus muscular, por isso é muito importante a atividade física. “Às vezes você vai em algum lugar e pensa ‘não vou me sentar ali porque eu não caibo’ que era um pensamento que você tinha antes, mas você cabe”.

Ouça parte da entrevista onde Talita conta um pouco sobre sua rotina de alimentação e atividade física:

Outra História

Assim como Talita, a estudante de Jornalismo, Maria Teresa Gândara, 21 anos, também teve problemas com a balança. Ela conta que desde criança se alimentava mal e por causa disso tinha muita facilidade de ganhar peso. A estudante lembra que a situação de ganho de peso, foi se sustentando por algum tempo, mas quando ela tinha 18 anos e estava no cursinho, começou a se sentir mal por causa de sua aparência, e foi nesse momento que ela decidiu mudar sua atitude.

“Quando eu vi que não ficava mais com ninguém e quando tiravam fotos minhas, eu me escondia e escondia meu corpo. Minhas amigas sempre foram muito magras e bonitas, mas eu me sentia horrível.” No começo, a busca desenfreada pelo peso ideal, fez com que a jovem se perdesse um pouco pelo caminho, pois para se livrar do excesso de gordura, e dos quase 100 quilos que pesava na época, ela desenvolveu anorexia nervosa, e como na maioria dos casos, ela só percebeu que precisava de ajuda quando já estava quase sem forças para lutar.

Nesse momento, Teresa pesava 49 quilos. A estudante diz ainda que para sair desse problema, a ajuda da família e dos amigos foi muito importante, mas que até hoje ela tem que se cuidar e evitar perder o controle da alimentação.

Atendimento psicológico

Segundo a psicóloga Gabrielle Fernandes, a compulsão alimentar é nada mais que uma ansiedade sem controle. Geralmente diante de uma situação estressante há início da compulsão alimentar, como um divórcio, a perda de um ente querido, doenças em familiares, entre outros. “A compulsão pode também ser aprendida , os filhos tendem a copiar o comportamento dos pais ou de pessoas próximas. É necessário cuidar desde cedo”, afirma.

A psicóloga diz ainda que os principais sintomas apresentados por pacientes obesos são ansiedade, depressão e o que geralmente é deixado de lado que são as questões de saúde, “Muitas vezes o ganho de peso está atrelado a alguma disfunção no organismo, o que deve ser avaliado sempre”.

Atendimento Nutricional

A nutricionista Mariana Savian diz que seu papel é auxiliar na melhora dos hábitos errôneos ensinando o paciente obeso a adquirir novos hábitos, tais como: mastigar devagar todos os alimentos; alimentar-se entre intervalos de 3 ou 4 horas durante o dia; não tomar líquidos em excesso junto com as refeições; incentivar a prática de exercícios físicos; auxiliar no controle da ansiedade e na compulsão alimentar.

Ela ainda afirma que a obesidade pode ser influenciada tanto por fatores genéticos, fatores psicológicos, fatores ambientais como por fatores químicos (medicamentos). É indicado que o paciente faça uma cirurgia bariátrica quando ele atinge um IMC (índice de massa corporal) mínimo de 35 Kg/m² apresentando alguma comorbidade (diabetes, pressão alta, por exemplo) ou com IMC igual ou superior a 40 Kg/m², sem precisar, necessariamente apresentar alguma comorbidade.

“Dependendo do peso atual que o paciente apresentar ele necessita sim perder o equivalente a 10% deste peso. No caso da alimentação, é necessário que este paciente inicie o processo de reeducação alimentar antes da cirurgia para que, depois da mesma, ele não sinta tanta diferença nem passe mal”

Mariana recomenda que após a cirurgia bariátrica seja feito um acompanhamento mensal até que se completem seis meses de cirurgia, sendo duas consultas por mês (dependendo de cada caso, este número pode mudar). Completando os seis meses, as consultas ficam mais espaçadas sendo a cada dois meses até completar 1 ano de cirurgia.

Ouça parte da entrevista com a nutricionista onde ela conta sobre como ajudar o paciente durante o tratamento:

Atendimento Esportivo

O educador físico Nikolas Garcia explica que a atividade física é necessária para ajudar a reverter o quadro de obesidade do paciente, mas é parte de um trabalho multidisciplinar, junto com o cirurgião, um nutricionista, psicólogo e muitas vezes um endocrinologista. “O exercício físico não auxilia somente na perda de peso e melhora na auto estima, mas também nos mecanismos hormonais. A ideia é tornar o exercício um habito e um estilo de vida”, afirma.

Ouça parte da entrevista com o educador físico:

 

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Infográfico: Caren Godoy

Editado por Vitor Domingues

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