
Por Fernanda Lagoeiro
Como diz o cantor Chico Antônio, “tudo o que vai para a mesa tem a mão do agricultor”. Segundo o Ministério da Agricultura, no Brasil, a agricultura familiar é responsável por empregar 14 milhões de pessoas. Ou seja: famílias com membros das mais diversas faixas etárias, que trabalham diariamente em condições de trabalho variadas, e tiram do próprio alimento que cultivam o sustento para viver.
Essa realidade está estampada no Circuito das Frutas, uma região criada em 2000 a partir de uma associação de pequenos produtores rurais, que buscava, além de aumentar o fluxo de produção agrícola nas cidades pertencentes, gerar renda por meio de um polo turístico rural. A iniciativa foi legalizada e concretizada dois anos depois, formada pelos municípios de Jundiaí, Jarinu, Valinhos, Vinhedo, Louveira, Indaiatuba, Itupeva, Itatiba, Morungaba e Atibaia. Atualmente, o Circuito corresponde ao cultivo de frutas e hortaliças, realizados em mais de 60% dos estabelecimentos rurais da região por agricultores familiares, segundo dados do CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral).
Entretanto, a região se localiza no meio de uma especulação imobiliária, o que muitas vezes acaba desvalorizando a prática da agricultura familiar. Com outras opções de mercado, os filhos dos agricultores não se interessam em seguir a tradição da família. Se faz necessário então aumentar a competitividade dos produtos, para que os mesmos não sejam afetados pelos empreendimentos. “É preciso agregar valor aos produtos para que eles sejam competitivos, para a família se manter ali e manter os filhos trabalhando na agricultura familiar”, conta Cristina Criscuolo, Geógrafa e pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Campinas.
Pensando nisso, a Embrapa vai iniciar um projeto de Geotecnologias no Circuito das Frutas. Ainda sem nome definido, o projeto terá início em agosto, e vai trabalhar principalmente com transferência de tecnologias.
A ideia é fazer análises e pesquisas de campo, além de mapear a região dos dez municípios para verificar possíveis erros nas plantações (seja socioeconômicos, físicos ou de vegetação). Para isso, serão utilizados recursos geotecnológicos, como imagens de satélite, por exemplo. Depois de diagnosticadas as deficiências, será feito um zoneamento agroecológico (uma amostragem) e escolhidas áreas principais para serem trabalhadas. Os agricultores que fizerem parte do programa vão participar de workshops e receberão orientação da Embrapa, a fim de implantar soluções para estes problemas e aumentar a produção agrícola, bem como a força turística e comercial do Circuito das Frutas. “Estamos ainda na fase inicial, de pesquisa e de estudo para poder definir os principais parceiros. Mas estamos esperançosos e essa iniciativa tem tudo para dar certo!”, conta Cristina, que também é membra da equipe do novo projeto.
O projeto de Geotecnologias da Embrapa vai de encontro à uma “nova safra” da agricultura familiar, na qual a ONU discutiu a importância do investimento acerca do tema no ano passado – que foi considerado o Ano da Agricultura Familiar. Além disso, o Governo brasileiro aumentou este ano em 20% o investimento em pequenos agricultores.
O crescimento das Geotecnologias
Além do projeto com agricultura familiar, a Embrapa está preparando para o ano que vem o segundo volume do GeoAtlas, um material didático que utiliza geotecnologias (imagens de satélite e softwares de cartografia de mapas), desenvolvido exclusivamente para escolas municipais de Campinas.
O primeiro volume foi lançado em 2013, em parceria com a Prefeitura de Campinas. O objetivo é servir de base escolar e ensinar aproximando as crianças da realidade em que vivem. “O material é versátil, e conta desde a história de Campinas, até a parte de agricultura e de como as paisagens se formam. Essa proximidade faz com que as crianças absorvam melhor o conteúdo e entendam como as Geotecnologias são importantes para a agricultura e para a educação”, conta Mateus Batistella, Chefe-Geral da Embrapa Monitoramento por Satélite. Enquanto o primeiro volume introduzia dados demográficos e a história da cidade, o segundo volume terá o foco mais direcionado para a agricultura e os principais produtos da Região Metropolitana de Campinas (como café e a cana-de-açúcar, por exemplo).

O GeoAtlas passou por várias etapas até ser impresso pela primeira vez em 2013. Desde 2006, cerca de oito pesquisadores da Embrapa e mais sete professores da rede municipal de Campinas iniciaram as pesquisas para o desenvolvimento do material. “Foram feitas várias pesquisas para saber o que alunos de sexto à nono ano devem aprender nessa faixa etária. Dessa forma, pudemos fazer o material com uma linguagem mais adequada e que eles pudessem assimilar mais facilmente”, diz Cristina Criscuolo, autora do GeoAtlas.
O material tem sido utilizado nas escolas de maneira interdisciplinar: nas aulas de informática utilizando a versão on-line, nas artes para a confecção de mapas, nas de educação física para falar sobre saúde e alimentação, nas aulas de matemática para calcular escalas e principalmente nas aulas de Geografia, como parte integral da disciplina.
Para o ano que vem, a Prefeitura intensificou a parceria com a Embrapa, e vai aumentar o lote de GeoAtlas impressos. Ao todo, 20 escolas receberam cerca de quatro exemplares do material cada, o que deve dobrar no próximo volume. A Embrapa também está estudando a possibilidade de desenvolver um GeoAtlas em cartografia tátil, para colaborar com a metodologia educacional de crianças portadoras de deficiência visual.