Número de mortes por suicídio pode dobrar até 2020

Por Beatriz Bressam e Mona Carolina Moreno

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que o número de mortes por suicídio ao ano se torne o dobro até 2020, o que representa 1,5 milhões de pessoas e 2,4% de todas as mortes no mundo. No Brasil, por exemplo, o suicídio entre pessoas de 15 a 29 anos aumentou 20% nas últimas duas décadas. Mas afinal, o que leva uma pessoa a tirar a própria vida?

A cada 1 suicida, em média 6 pessoas da família são atingidas por um quadro depressivo. Foto Mona Carolina
A cada um suicida, em média seis pessoas da família são atingidas por um quadro depressivo. Foto Mona Carolina

Segundo a médica psiquiatra Maria Cristina de Stefano as causas que levam uma pessoa ao suicídio são várias. Depressão, esquizofrenia e os chamados transtornos graves de personalidade, são exemplos de doenças que podem ocasionar o suicídio e contribuem para sua incidência.  Além disso, a psiquiatra ainda alerta que todas essas doenças podem  levar os indivíduos a serem dependentes químicos de drogas licitas e ilícitas. “Os casos mais de graves de suicídio são os que estão relacionados ao uso de álcool. Já que sua utilização pode levar a pessoa a quadros depressivos, gerando um ciclo, em que a depressão também leva ao alcoolismo e uma patologia acaba agravando a outra”, explica a psiquiatra.

Foi o que aconteceu com o estudante de administração de 21 anos, P.D.O, da cidade de Campinas, que  após o uso esporádico de drogas, como maconha e bebidas alcoólicas teve seu caso agravado. O estudante relata que foi para a cidade do Rio de Janeiro fazer tratamento de dependência química, porém não conhecia ninguém e assim começou com um quadro depressivo e tentou o suicídio. A tentativa, fracassada, se deu após uma overdose de remédios ingeridos. O estudante foi socorrido há tempo e permaneceu durante três dias na UTI.  “Tentei me matar logo depois da mudança, quando estava começando o tratamento de dependência química. Tive recaídas, usei novamente, fui internado em instituições clinicas e hoje estou limpo, já faz 1 ano e 2 meses e já não tenho mais contato com droga, nem bebida alcoólica”, conta.

A psiquiatra Maria Cristina perdeu seu filho de 34 anos, por suicídio. Ela conta que Felipe de Stefano morava sozinho e sofria de um grave transtorno de personalidade. E após sua morte juntamente com seu outro filho encontraram no apartamento de Felipe, quadros pintados e cinco diários escondidos, em baixo da cama e dentro de seu armário. Para ela, estavam nesses locais propositalmente. Ainda de acordo com a psiquiatra, a família levou um ano para ter coragem de ler os diários, e quando decidiram que era a hora de ler, o choque foi grande. “Eu fiquei tão chocada com o que estava escrito ali que achei que eu seria extremamente egoísta em deixar aquilo guardado em uma gaveta escondida”, conta.

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Quadros pintados por Felipe antes de se suicidar “Foto: arquivo pessoal”

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Foi quando ela teve a ideia de publicar o livro chamado “Suicídio: a epidemia calada”, que tem o objetivo de dar início a uma luta para enfrentar e quebrar o tabu da depressão e o suicídio na sociedade. “O suicídio é uma epidemia calada, porque se calam os médicos, se calam a família e até os meios de comunicação. O conceito de que, se falar em suicídio pode gerar mais suicídios, não é verdade” afirma.

Existem alguns outros mitos relacionados ao tema, como por exemplo, a falsa ideia de que o suicida não avisa que vai se matar. B.C, de 17 anos, que também não quis se identificar, prova que o suicídio pode dar sinais.

A jovem conta que vinha lamentando constantemente da vida para os pais e teve seis overdoses de medicamentos, até que na última, se deu conta de que essa não seria a melhor solução para seus problemas. “Na última vez que fui para o hospital, meus pais tiveram uma séria conversa comigo e me falaram que de tanto eu tentar me matar, uma hora eu conseguiria. Foi aí que minha ficha caiu”.

São histórias como a de P.D.O, B.C e a experiência própria do sofrimento sentido pela família de Maria Cristina que incentivaram a publicação do livro e a divulgação das obras feitas por Felipe De Stefano, as quais trazem mensagens subliminares de seu suicídio. “É preciso que todos compreendam a dor psíquica, o sofrimento intenso que essas pessoas têm. A minha busca e da Associação Brasileira de Psiquiatria é partir para uma atitude mais assertiva como fizemos, enquanto sociedade e enquanto médicos, em outras doenças”, deseja médica.

 

Editado por Karina Danielle

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