Inverno se aproxima e produção de malhas em Serra Negra diminui

Por Marcela Castanho

Conhecida pelo forte turismo, amplo comércio e vasta rede hoteleira, Serra Negra que está a 81 km de Campinas é uma das nove cidades que integra o Circuito das Águas Paulista.

A estância hidromineral tem como principal atividade econômica o comércio, principalmente das malhas em tricô e crochê que, há mais de 80 anos, são produzidas na cidade pelas malharias e artesãs locais e fazendo sucesso nas épocas mais frias do ano.

Comércios de gerações, as lojas de confecções próprias estão, cada dia mais, perdendo clientes, turistas, diminuindo a produção e, consequentemente, deixando de vender.

A forte crise econômica que o país vem enfrentando, somado ao boom da tecnologia e ao clima indefinido, comerciantes serranos perderam força no mercado. As malharias produziam incessantemente durante nove meses ao ano. Hoje, elas diminuíram a produtividade e algumas até pararam de operar, como a da Kátia Cuculi, desativada após 30 anos de produção.

Nascida e criada em malharia, Kátia herdou da mãe o gosto pelo comércio. Proprietária de uma loja há 40 anos optou por desativar a malharia própria e terceirizar o serviço de produção.

“É mais fácil eu montar o modelo e passar pra uma pessoa que vai tomar conta, do que eu ter todos os encargos com funcionários e os problemas que dá de você tecer, montar e por para vender”.

Kátia terceiriza o serviço há seis anos e afirma que as vendas na cidade começaram a cair há, pelo menos, três. “Uma porque a gente depende do inverno, então se eu não tenho o frio, as minhas vendas caem. E esse ano agravou a falta de frio e a crise que está em todo Brasil”.

Loja no centro da cidade (Foto: Marcela Castanho)
Loja no centro da cidade (Foto: Marcela Castanho)

Ariadne Bailão tem malharia desde o início dos anos 90 e atribui as quedas das vendas ao forte fluxo de circulação e poder de venda dos produtos importados, principalmente os produtos chineses que chegam ao mercado com preços mais baixos, e ao frio que está mais ameno e atrasado nos últimos anos.  “Na verdade, a produção na área de tricô vem caindo desde que abriram as importações. Com a facilidade do produto chegando da China ficou muito caro fabricar no Brasil. Então, esse ramo vem sofrendo um declínio já há uma década e meia. Porém, também somado a isso, o aquecimento global porque nós vendemos uma mercadoria muito sazonal, dependemos do frio, que é responsável pela queda na produção. Mas, de algum tempo para cá, eu creio que não tanto o problema financeiro que a população vem atravessando, a crise, mas eu creio que a falta do frio é o nosso maior problema e os preços que não tem como você brigar com produto importado”.

Loja de malhas no centro de Serra Negra (Foto: Marcela Castanho)
Loja de malhas no centro de Serra Negra (Foto: Marcela Castanho)
(Arte: Bárbara Pianca)
(Arte: Bárbara Pianca)

Com a tecnologia estreitando cada vez mais as distâncias geográficas, hoje, apenas com o celular em mãos, você consegue comprar um produto do outro lado do mundo e recebe-lo na porta de casa sem precisar levantar do sofá. E-commerce é o termo utilizado para a prática de compras online. O Brasil possui o décimo melhor mercado de comércio online do mundo, ficando atrás do Japão, Reino Unido, EUA e da China, líder neste tipo de vendas e exportações para outros países.

No Brasil, o ramo de moda e acessórios lidera as vendas online. Daiane Thomaz mora em Santos e sobe a serra pelo menos duas vezes por ano para comprar roupas em Serra Negra, mas a facilidade de comprar pela internet e a opção de preços mais baixos estão atraindo a engenheira ao comércio virtual. “Eu costumo vir pra cá, pra Serra Negra, umas duas vezes por ano. Gosto de vir geralmente nessa época do ano, nessa época de mais friozinho, que ai é pra gente fazer compras, vir ver umas malhas. Mas, eu costumo ver mesmo que o preço aqui está bem diferente. Antes, eu deixava para fazer minhas compras, comprar presente, deixava pra fazer tudo isso aqui e agora não. Agora eu vejo que sai um pouco mais barato, as vezes até uma diferença bem significativa, comprar na internet, as vezes até promoções de shopping acabam sendo mais interessantes do que as malhas de Serra Negra”.

(Arte: Bárbara Pianca)
(Arte: Bárbara Pianca)

Entre os moradores da cidade, as opiniões são divididas. A estudante serrana Vitória Deneno diz que os preços das malhas estão altos e que a qualidade caiu. “Eu prefiro fazer compras em Campinas do que em Serra Negra, porque em Campinas eu tenho marcas renomadas pelo mesmo preço que aqui. Porque aqui, o bom antes era porque era mais barato, porque valia a pena comprar uma coisa de qualidade, mesmo não sendo uma marca renomada, mas tendo um preço mais em conta. Hoje em dia, os preços estão altos, a mercadoria está ruim, então compensa mais, se é pra pagar um preço alto, pagar um preço alto por uma roupa em um shopping, mais garantido”.

Já para a dona de casa Marta de Lima, o comércio serrano ainda é a primeira opção: “Sou paulistana, moro aqui em Serra Negra há 25 anos e eu ainda prefiro comprar as peças, as malhas, feitas aqui, nas malharias aqui da cidade. Eu sei que existe uma explosão de produtos chineses no mercado, mas eu ainda dou preferencia as malhas confeccionadas aqui. Eu acho que o artigo é muito bom, o preço é acessível a todos, qualidade boa, modelo sempre atuais. Gosto muito”.

Turistas passeiam pelo comércio serrano no final de semana (Foto: Marcela Castanho)
Turistas passeiam pelo comércio serrano no final de semana (Foto: Marcela Castanho)

Ariadne afirma, ainda, que o consumidor serrano começou a valorizar e consumir a mercadoria da cidade de quatro anos para cá, mas, mesmo assim, a economia do comércio na cidade caiu muito. “Mas eu acho que de dois anos pra cá sofreu um declínio muito grande. A produção diminuiu, cortamos a hora extra, os funcionários estão trabalhando em turnos, e não tem sido fácil manter um comércio de tricô. Você precisa ter muito capital de giro e esperançosamente vender sua produção na primeira frente fria”.

Em relação ao ano passado, as vendas nas lojas de Serra Negra caíram em 40%, um número significativo para quem depende das vendas, de turistas e clientes e da temperatura favorável – a mais difícil de se controlar.

“Eu espero que faça frio porque, se não fizer, nós não vendemos”, conclui Kátia.

Editado por Bárbara Pianca

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