Por Ricardo Andrade
O cenário de divisão política do país ficará ainda mais claro durante este fim de semana. Manifestações promovidas por setores opostos politicamente ocorrerão nesta sexta-feira (13) e no próximo domingo (15). O ato de hoje acontece às 16h, na Avenida Paulista. A mobilização é organizada por centrais sindicais e entidades como MST, MTST e UNE, tradicionais aliadas do governo petista. Entretanto, o ato expressará um descontentamento com recentes políticas adotas pelo executivo, como as Medidas Provisórias 664 e 665, que restringem direitos previdenciários. Além disso, a manifestação levanta as bandeiras da reforma política e da “defesa da Petrobras”.
Em Campinas, a subsede da Central Única dos Trabalhadores (CUT) tomou a frente da mobilização para o ato de hoje, disponibilizando ônibus para os manifestantes. De acordo com a Assessora de Coordenação da CUT Campinas, Ivone Gosse, a procura tem sido intensa: “Já confirmamos 17 ônibus, que sairão de Campinas, e outros oito nas cidades de Americana, Sumaré, Santa Bárbara do Oeste e Limeira. Ao todo serão 1.150 pessoas saindo de Campinas e região”; afirma.
No domingo (15) será a vez de outra parcela da população ir às ruas. O ato principal também ocorre na Avenida Paulista, às 14h, mas outras manifestações devem ocorrer em 45 cidades de 16 estados. O movimento não possui uma organização centralizada. Porém, apesar de não apresentarem lideranças definidas, as manifestações possuem um perfil homogêneo de participantes, formado por setores conservadores das classes médias e ligados ao empresariado.
As mobilizações do próximo domingo (15) também são movidas por um descontentamento com medidas adotadas pelo Governo Federal, mas não possuem uma postura reformista. Uma das bandeiras do ato é o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Dois lados
O jornalista Cauê Mota, de 24 anos, vive em Campinas e participará do ato de domingo (15), na Avenida Paulista. Desempregado e sem perspectivas positivas para o futuro, Mota afirma que a atual situação econômica desfavorável é sua principal motivação para ir às ruas. Além disso, o jornalista demonstra indignação com as recentes políticas adotadas pela presidente Dilma Rousseff: “Você não pode vencer uma eleição falando uma coisa e em seguida fazer outra. Isso tem nome: estelionato eleitoral”.
No que se refere à manifestação desta sexta-feira (13), Cauê Mota demonstra desconfiança. Na visão do jornalista, o ato torna-se hipócrita ao posicionar-se em defesa da Petrobras. “Isso é brincar com a inteligência das pessoas. Defender a Petrobrás de quem, se foi no próprio governo do PT e pessoas ligadas ao partido que armaram um esquema bilionário de desvio de dinheiro e pagamento de propina?”; indaga Mota.
Na contramão de Cauê Mota está a jovem Gabriela Piana, de 23 anos. Gabriela cursa a faculdade de Engenharia Civil, na Unicamp, e nesta sexta-feira (13) irá para o ato na Avenida Paulista. A estudante considera a “defesa do seu voto” como principal motivo para sua participação na manifestação de hoje, uma vez que interpreta as manifestações de domingo (15) como um desrespeito a vitória de Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
Assim como Cauê Mota, Gabriela considera que a presidente Dilma não vem cumprindo inteiramente suas promessas e afirma que esses compromissos serão cobrados. “A crítica feita na sexta-feira é uma cobrança às promessas de campanha do Governo Dilma, como a manutenção dos direitos trabalhistas, que não parece estar sendo cumprida”; afirma.
Ao analisar as diferenças entre os atos de sexta-feira (13) e domingo (15), Gabriela Piana ressalta o perfil dos manifestantes e organizadores como principal disparidade. “O ato de domingo, me parece algo promovido pela elite brasileira, usando como massa de manobra uma classe média insatisfeita com o governo, cujas principais políticas não tiveram ela como foco”; ressalta Gabriela.


País dividido
Apesar do clima de polarização estar mais acirrado neste momento, essa divisão ideológica da sociedade brasileira sempre existiu. É o que afirma o sociólogo Fábio Barichello. De acordo com sua avaliação, a mudança no perfil da oposição vem provocando situações mais conflitantes do que de costume. “O que ocorre neste momento é que a eleição de um Congresso mais conservador, aliado a uma oposição que se manteve incansável e articulada mesmo após o resultado das urnas, contribuíram para que essa polarização perdurasse mesmo após o pleito eleitoral”; ressalta.
Ao ser questionado sobre um possível quadro de “luta de classes”, Barichello avalia que a situação não representa um impasse tão profundo, limitando-se a um conflito de ideias. “Acredito que se limite a um conflito ideológico, para constatar isso basta verificar os setores que estão apoiando cada uma das manifestações e a pauta de cada uma delas. Penso que essa situação que estamos vivenciando faz parte da democracia”, conclui.
Editado por Willian Sousa