Por Juliana Gimenes
Nesta segunda-feira que abre a semana da Consciência Negra, acontece em sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo a homenagem ao centenário da escritora Carolina Maria de Jesus, autora do clássico Quarto de Despejo – Diário de uma favelada, publicado originalmente em 1960 pelo jornalista Audálio Dantas.
Além da menção honrosa que será entregue a família de Carolina, haverá o lançamento e distribuição gratuita do livro Onde estaes felicidade?, no qual estão publicados dois contos inéditos e ensaios sobre a autora. A obra, idealizada pela Fundação Cultural Palmares (FCP) com o apoio do Ministério da Cultura, traz as histórias tais como foram escritas, com uma linguagem simples e português marcado por erros gráficos.

Biografia
Carolina Maria de Jesus, nascida em Minas Gerais em 14 de março de 1914, caracterizada pela sua fibra e consciência social e racial, apesar de ter sido uma das primeiras escritoras negras do país, caiu no esquecimento após a publicação de seu primeiro livro, Quarto de Despejo, que relata o cotidiano de uma mulher negra e pobre dos anos 50, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, e registra em forma de diário sua rotina e de seus vizinhos. O título veio de uma frase de Carolina: “A favela é o quarto de despejo da cidade!”
Descoberta por Audálio Dantas, que estava em Canindé preparando uma reportagem para o extinto jornal Folha da Noite, Carolina acumulou mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o dia a dia da favela que, após a edição do jornalista, transformou-se na obra com três edições lançadas, alcançando a margem de 100 mil livros vendidos, traduzido para 13 línguas. Carolina publicou ainda Casa de Alvenaria, Journal de Bitita, e Meu estranho diário, sendo os dois últimos póstumos.
Para Tânia Pessega, negra e estudante de antropologia da Unicamp, Carolina é duplamente representativa. “Para mim, ela é um exemplo de força para os negros e também para as mulheres. Muitos a caracterizam como militante do movimento feminista mas, na verdade, ela não tinha consciência do que era militância. Ela apenas resistia e se posicionava”, comenta a estudante.
Não sendo letrada e oriunda de família humilde, Carolina Maria de Jesus foi excluída da comunidade intelectual e teve sua literatura redescoberta apenas nos anos 90, através da publicação do pesquisador brasileiro José Carlos Sebe Bom Meihy e do norte-americano Robert Levine, que juntos lançaram o livro Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus.
Filmes que retratam as obras e a vida de Carolina:
Favela: A vida na Pobreza, de 1971, produzida pela alemã Christa Gottman
O papel e o mar, de 2012, produzido por Luiz Antonio Pillar
Homenagem a Carolina de Jesus, produzido pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Centro Educacional Unificado (CEU) Vila Atlântica
Programação
Em Campinas, os eventos promovidos pela Coordenadoria Setorial de Promoção da Igualdade Racial (Cepir) da Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência e Inclusão Social (SMCAIS) estão acontecendo desde o dia 1 de novembro e sua última semana de programação pode ser consultada no site da Prefeitura. No Espaço Cultural Casa do Lago, na Unicamp, serão passados diariamente filmes sobre a temática, começando por “Histórias Cruzadas”, de Tate Taylor, e encerrando com “Quanto vale ou é por quilo?” de Sérgio Bianchi.
Em 2011, a presidenta Dilma Roussef sancionou a lei 12.519/2011, que criou a data, mas que não obriga que ela seja feriado, sendo esta a decisão tomada por cada município. Atualmente o Dia da Consciência Negra é considerado feriado em mais de 800 cidades brasileiras.

Editado por Jacqueline Fernandes.