E se Fosse Eu: colocando-se no lugar das vítimas de homofobia

Por Martha Raquel Rodrigues

Criada no início de setembro, a campanha #eSEfosseEU já alcançou 5 mil pessoas no Facebook, e mais de 150 mil em todo país. Gabriel Colombo é publicitário e um dos criadores do movimento, junto com o analista de eventos Caio Locci, eles lançaram uma ideia: pegar uma foto sua e colocar uma manchete falsa dizendo que você havia sofrido com um crime de homofobia, e assim se fez. Caio pegou uma manchete que contava a morte de outro jovem, Samuel da Rocha de 23 anos que foi morto a facadas no terminal Jabaquara em São Paulo. Logo que a notícia falsa foi postada, gerou espanto e comoção dentre os conhecidos de Caio. Ele queria chamar a atenção para que as pessoas percebessem que isso poderia acontecer a qualquer momento com alguém próximo.

No Brasil, os crimes praticados contra homossexuais, lésbicas e travestis, conhecidos como crimes homofóbicos, pertencem à categoria dos crimes de ódio, que engloba insultos, danos morais e materiais, agressão física – às vezes chegando ao assassinato – praticados em razão da raça, sexo, religião, orientação sexual ou etnia da vítima. Deste modo, não é possível se obter um número oficial de vítimas que sofrem com a homofobia no país.

O movimento #eSEfosseEU chama a atenção para aquilo que as pessoas imaginam estar longe da realidade delas. Celeste Rodrigues, aposentada de 48 anos, decidiu publicar a imagem em seu Facebook como forma de alertar os conhecidos que não somente os homossexuais estão sujeitos a sofrer com este tipo de crime. “Coloquei a notícia porque minha filha tem muitos amigos gays, e me preocupa que essa violência possa chegar um dia até ela… Com a falsa notícia tenho a impressão que todos que viram, passaram a ter uma visão diferente do tema”, relata Celeste.

Notícia falsa
Mãe adere a campanha para conscientizar conhecidos sobre riscos da homofobia (Crédito: Martha Raquel Rodrigues)


DADOS

A homofobia provocou 240 mortes somente este ano, de acordo com o levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), que é referencia sobre o tema. Segundo o GGB, em 2013 foram 312 mortos, o que corresponde a uma morte a cada 28 horas. Em 2012, foram pelo menos 338 vítimas fatais entre gays, lésbicas e travestis. Os números foram levantados pelo pesquisador Luiz Mott, da Universidade Federal da Bahia e do GGB, e são baseados em registros policiais e notícias, dada a inexistência de estatísticas oficiais.

A Secretaria Nacional de Diretos Humanos, divulgou em 2013 um relatório sobre a violência homofóbica no Brasil, que revela que 9.982 violações de direitos humanos foram cometidas contra 4.851 vítimas LGBT. No relatório anterior, de 2011, constavam 6.809 violações contra 1.713 vítimas. Também é apresentado que em 47,3% dos casos, os denunciantes não conheciam as vítimas. E mais de 71% das vítimas são do sexo masculino, e dentre estas, 61% tem de 15 a 29 anos. Todo o relatório é baseado em denúncias do Disque 100.

Abaixo os mapas mostram quais os estados que tem mais denúncias de violação aos direitos humanos, e quais os que registraram maior número de homicídios por homofobia:

(Crédito: divulgação /Secretaria Nacional dos Direitos Humanos)
(Crédito: divulgação /Secretaria Nacional dos Direitos Humanos)

Editado por Aline Pavani

15 comentários

  1. Muito legal a iniciativa! Muitas pessoas só tomam consciência da proximidade da violência quando ela ocorre com alguém próximo ou com elas próprias. A hora é agora, o debate está em pauta finalmente, e precisamos nos posicionar para que esses crimes bárbaros nunca mais aconteçam.

    1. Oi, Assis. Muito obrigada, fico feliz que essa matéria tenha sido recebida de forma tão positiva pelo público, porque acredito que só assim vamos conseguir mudar as coisas. Que campanhas como essa ajudem nossa sociedade a tratar como natural toda e qualquer demonstração de amor. Um beijo.

  2. É um fato a se pensar…
    Mas acredito que apesar de todo o medo, continuar lutando e principalmente não se deixar abater por essas pessoas que se julgam donos do mundo, é fundamental. Não vou deixar de querer me casar ou deixar de lutar pelos meus direitos.
    Obrigada pela oportunidade de expressar o que eu sinto, assim como mais trilhão de pessoas.

    1. Oi, Dani. Primeiramente o prazer foi meu por ter tido a sua confiança para que participasse desta matéria, uma das minhas mais empolgantes produções. Não podemos aceitar não somente este, mas qualquer tipo de preconceito, e devemos sim lutar pela nossa felicidade. Estou aqui torcendo por você, e por seu amor. Um beijo.

    1. Oi, Bárbara. Ficou muito feliz porque você ter gostado da campanha. A intenção era realmente chamar a atenção de todos para algo que acontece com frequência, mas que passa despercebido. Um beijo.

    1. Oi, Bruno. Campanhas como esta servem para lembrar daquilo que já deveríamos praticar todos os dias, o respeito. Fico muito feliz que tenha gostado da matéria. Um beijo.

  3. Muito boa a matéria, Martha! Achei massa o vídeo! Seria bacana se todo mundo soubesse se colocar no lugar do outro na horar de proferir qualquer tipo de discriminação, certeza que o mundo seria um lugar melhor.
    Achei os dados bem tensos. Certeza que muita gente ainda tem vergonha de ir a delegacia após sofrer uma agressão, e nao sabe que agressão verbal também é agressão. E também tem gente que vai e não encontra apoio nenhum :/
    Curti mt a matéria e vou até mandar pra uma amiga que está fazendo o TCC sobre isso.
    Sucesso!

    1. Oi, Camila. Hoje em dia o ser humano pensa muito no individual, e acho importante campanhas como essa que nos lembram que o preconceito com o outro existe. Fico muito feliz que tenha gostado. Muita gente acredita que a agressão verbal não fere, mas somente quem já a sofreu sabe, não é mesmo?! Espero que cada vez mais essa campanha se multiplique, e cresça.
      Você poderia me mandar o TCC da sua amiga depois? Me interesso muito pelo tema e adoraria ver o trabalho dela também. Obrigada pelo carinho, um beijo.

  4. Adorei a matéria, Martha!!! Adoro ler e falar sobre o assunto. Tenho muuuitos amigos homossexuais e sei e vejo de perto o que eles passam todos os dias com pessoas que não se colocam no lugar deles quando pensam em agredir, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Infelizmente quanto mais se fala sobre o assunto, mais se mobilizam por respeito e igualdade, maior o número de crimes contra homossexuais, pelo menos é isso que eu venho percebendo!! As pessoas precisam de mais amor ❤

    Muito sucesso!! Beijos.

    1. Oi, Mari, fico muito feliz que tenha gostado. Eu também me interesso muito pelo tema justamente por ver que isso pode acontecer com alguém bem próximo a mim. A sensação de impotência é péssima, não é mesmo?! Respeito é indispensável, e me deixa muito triste ver que não são todos que recebem. Concordo com você, as pessoas precisam de mais amor! ❤ Um beijo.

  5. Meu nome é Junior, tenho 19 anos e sou homossexual.
    Não gosto muito de me expor quanto a isso e por esse motivo não sou 100% assumido. Não sou 100% eu mesmo. Até acho que meus pais “não sabem” (até porque eles devem ter uma noção do filho que eles criaram, NÃO É MESMO?!). Eles não são lá de aceitar esse tipo de “””””comportamento”””””, como dizem, e consequentemente ainda não me sinto confortável e preparado para me assumir a eles.
    Ainda não sofri nenhum tipo de agressão homofóbica, graças a Deus, mas tenho medo. Tenho medo por mim e por todos os gays, mulheres, negros e todas as minorias deste país. Grupos que todos a todo momento são alvos da podridão da sociedade em que vivemos. Grupos que, acima de qualquer rótulo, são compostos por humanos.
    O movimento #eSEfosseEU, sem dúvidas, alcançou seus objetivos. Uma pena precisar de campanhas, de certa forma, chocantes como essa para que haja a conscientização contra esse crime, a homofobia.
    Parabéns pela matéria!

    1. Junior, eu não sei nem explicar o que eu senti ao ler seu comentário, com certeza foi um dos mais emocionantes que eu li. Primeiramente muito obrigada pela confiança de contar algo tão íntimo pra você, e segundo, espero que seus pais te aceitem do jeito que você é. Ser gay não é doença, não é crime, e não é ‘estranho’. Não é só um comportamento, você nasceu assim e deve ser feliz a sua maneira. Estou na torcida pra que esse momento seja encarado com naturalidade, e que o amor de seus país seja maior do que qualquer preconceito. Um beijo.

  6. adorei a matéria muito esclarecedora todos deveriam se colocar no lugar do outro antes e ser preconceituoso parabéns Martha raquel

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