Por Isabella Robaina e Isabella Vicentin
Atualizado em 14 de outubro, às 11:02

Casos de divulgação e vazamento de fotos e vídeos íntimos estão cada vez mais em expansão e são noticiados com frequência não só no Brasil, mas no mundo. Segundo um levantamento feito pela McAfee, empresa integrante da Intel Security, 62% dos entrevistados disseram que enviam ou recebem conteúdo privado, incluindo vídeos, fotos, e-mails e mensagens, sendo que a maioria (61%) das pessoas que recebem costumam armazenar esse conteúdo. A psicóloga e coordenadora psicossocial da Helpline Brasil, Juliana Cunha, explica que essa prática vem sendo denominada de “sexting”.
De acordo com os dados da Helpline Brasil, de janeiro a junho de 2014 foram 108 casos de exposição de imagens íntimas, sendo que neste mesmo período em 2013 foram 39 casos, ou seja, a tendência é que o número em 2014 cresça ainda mais. Ainda de acordo com informações da Helpline sobre o perfil das vítimas, em sua maioria elas são meninas entre 13 e 15 anos. Para a psicóloga Juliana Cunha, as meninas acabam sofrendo mais devido a cultura da sociedade de julgar e discriminar as mulheres que expõe sua sexualidade, além disso as jovens entre 13 e 15 anos podem enfrentar as consequências sociais quando na fase adulta.
A psicóloga e sexóloga, Priscila Junqueira, explica que o compartilhamento das fotos ou vídeos sensuais pode estar diretamente ligado a sexualidade do indivíduo, que abrange não só o sexo, mas as fontes de prazer e a proximidade dos seres humanos.
Para a sexóloga, quando a exposição acontece com o consentimento das duas partes envolvidas pode funcionar como uma fonte de prazer, aumentar o desejo sexual e se tornar algo saudável. Contudo, sem o consentimento isso pode interferir na sexualidade da pessoa e gerar grandes conflitos emocionais para a vítima, assim como problemas com amigos e familiares.
A estudante A.P.S, 21 anos, costuma enviar fotos íntimas para uma pessoa com a qual se relaciona através do aplicativo Snapchat, serviço de troca de fotos que desaparecem depois de um tempo. “Eu mando esse tipo de foto porque, às vezes, você está longe da pessoa, está com saudade, e essa é uma maneira que encontrei de ficar mais próxima da pessoa quando não posso encontrá-la”, afirma a estudante. Ela conta que sente mais segurança ao mandar fotos sensuais através desse aplicativo, pois pode verificar se foi feito um print da foto e também pelo fato de a imagem desaparecer minutos após ser enviada.

Após a divulgação e exposição de fotos ou vídeos íntimos nas redes sociais e na internet, muitas pessoas acabam sofrendo de depressão, passam por um isolamento social, mudanças de rotina e hábitos, enfim toda a vida social e psicológica passa por mudanças. Em muitos casos divulgados pela mídia, as meninas envolvidas em “sexting” chegam a cometer suicídio. As vítimas, na maioria das vezes, precisam de ajuda para superar e enfrentar esse momento, afirma Priscila Junqueira.
De acordo com os dados da pesquisa realizada pela McAfee, para 76% das pessoas que enviam conteúdo íntimo, é comum enviar fotos e vídeos a parceiros, enquanto 17% compartilham com desconhecidos. Porém, a maioria (91%) confia plenamente que seus parceiros não enviarão conteúdo íntimo ou informações privadas para outras pessoas. Quando o relacionamento termina, 75% afirmam pedir ao parceiro que apague as informações.
A estudante P.G, 21 anos, recebe e envia fotos sensuais pelo WhatsApp para amigos e pessoas conhecidas com a qual tem contato e no Skype já chegou a fazer alguns vídeos também com conhecidos. “Eu tenho muito medo que essas fotos vazem, então mesmo sendo uma pessoa que eu confio, eu não mostro meu rosto. No Skype, mesmo dando pra armazenar o conteúdo, eu não me preocupo tanto”, revela a estudante.
P.G confessa que no ano passado gravou um vídeo no qual está tendo relações sexuais com um homem que ela conhecia e estava “ficando”. Segundo ela, eles tem contato até hoje e os dois possuem o arquivo do vídeo, já chegaram a brigar e ficar sem se falar por um tempo, mas nunca divulgaram as imagens. “A gente sempre conversa disso e ele fala que não gostaria de nos expor , porque apesar dele saber que seria pior pra mim, ele também pensa na imagem dele”. A estudante diz ainda que se esse conteúdo íntimo vazasse a família dela acabaria entendendo, mas as outras pessoas sempre julgam e condenam a atitude.

Privacidade, segurança e proteção legal no mundo tecnológico
Ainda segundo a pesquisa da McAfee, quando o assunto é proteção para os dados em smartphones, 82% afirmam usar senha ou código de acesso. No entanto, 43% compartilham essas senhas com o parceiro e 49% usam a mesma sequência em vários dispositivos, o que aumenta a probabilidade de estes serem hackeados. A auto-promoção excessiva em redes sociais e senha com menos de 12 dígitos diminui a garantia de prevenir vazamento de informações, de acordo com o especialista em segurança da E-net Security e em crimes digitais, Wanderson Castilho.
A identificação e punição dos indivíduos que invadem esses dispositivos móveis e vazam informações sigilosas ainda está caminhando no Brasil. O Marco Civil da Internet, lei que funciona como uma Constituição para o uso da rede no país, só entrou em vigor em abril deste ano, depois de tramitar por mais de dois anos na Câmara dos Deputados. A lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para internautas e empresas.
Para a advogada especialista em direitos digitais, Maria Helena Campos de Carvalho, o marco civil da internet é apenas o começo, pois a justiça brasileira ainda deve criar muitas regulamentações para o uso da rede, mas enquanto os crimes são julgados de acordo com as leis já existentes.
Confira algumas dicas do especialista Wanderson Castilho para aumentar a segurança em computadores, smartphones e redes sociais a fim de minimizar a possibilidade de invasão e vazamento de informações pessoais na internet.
Editado por Daniela Castro
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