Por Alef Gabriel
“Eu não vejo problema, mas conheço gente que não gosta”. Esta é a fala obtida em uma pesquisa recentemente divulgada, que aborda reação e opinião de brasileiros quanto a publicidade envolvendo homossexuais, os resultados dessa pesquisa variam causando conflito e polêmica. O trabalho foi feito pela agência J. Walter Thompson e um dos principais dados obtidos foi que: os brasileiros são tolerantes quando questionados a publicidade gay (80% concordam) e afirmam que essa realidade deve ser retratada. Embora 75% dizem que de fato também não se incomodam mas que conhecem pessoas que não gostariam de ver gays incluídos em anúncios no geral.
Quando em pesquisas de opinião, o resultado apontado é de que “eu não me sinto desse modo, mas conheço quem sentiria”, pode ser um indicativo de subterfúgio e desconexão entre o que a pessoa diz (a imagem que ela quer passar), contrapondo com o que de fato ela sente. A Thompson ouviu cerca de 500 pessoas, acima de 18 anos, de classes A, B e C por meio de um questionário online.

Outra prova disso incluindo dados desta pesquisa é que 66% acham positivo usar casais do mesmo sexo em anúncios mas 48% não entendem porque as marcas deveriam mostrar casais gays. “No caso dessa pesquisa, isso se mostra claro: há um consenso social de que a homofobia é ultrapassada e imoral para nossa sociedade atual, portanto, não se pode discordar disso publicamente, porque isso faria você ser não aceito no meio social”, confirma Débora Zanini, formada em ciências sociais e atualmente Coordenadora de Social Intelligence em uma agência de publicidade de Campinas. Débora coordena as pesquisas com público na agência onde trabalha e conta que as marcas preferem ficar na sua zona de conforto e por isso não incluem tanto a diversidade sexual. Ela diz que as marcas que apostaram nisso visavam algo lucrativo; aumentar suas vendas, por mais que o ato seja favorável à comunidade LGBT o mercado não é ideológico.
Quando questionada sobre incluir essa diversidade em suas campanhas, Débora diz, “Essa pergunta me deixou muito constrangida por perceber que, em nenhum planejamento de campanha dentro do espaço profissional, sugeri a utilização de casais gays. E essas perguntas nos fazem realmente perceber o quanto, por mais que concordamos com algo, como resquícios de uma cultura ou ideologia está associada, infelizmente, dentro de nós”.

O vice-diretor da agência que fez a pesquisa disse à imprensa que as pessoas acusavam a publicidade de ser careta e conservadora, então resolveu fazer os questionários para ver se o “problema” era a publicidade mesmo ou o público. Ele afirma que ficou decepcionado com o resultado e concluiu que os brasileiros não são simpáticos quanto a ideia de usar casais gays em publicidade. Márcia Raele, gerente e coordenadora em uma agência de publicidade e propaganda de Campinas, diz que não se recorda de ter feito algum trabalho em seu tempo na agência que abordasse esse tema e que nenhum cliente fez qualquer observação sobre, porém conta que seria interessante fazer algo do tipo até para conferir a reação do público, e aposta em uma divisão de opiniões.
Das poucas propagandas que vemos com personagens gays, muitos estão relacionados a produtos específicos, como camisinhas e festas. “Associar casais gays a itens relacionados a sexo ou bebidas alcoólicas é muito ruim. Vejo como preconceito. Entretanto, creio que aos poucos, com a sociedade mais habituada com a situação, eles também começarão a fazer parte do universo da publicidade, assim, como aconteceu com as novelas. Ou seja, retrato da sociedade.”, completa a gerente.

Procuramos a opinião de quem está seguindo para esse caminho, Gabriel Barbosa, homossexual, 20, é aluno de publicidade e propaganda na PUC-Campinas e cursa o primeiro ano. Ele compartilha sua visão de que várias agências quando tentam abordar a homossexualidade partem para o humor, a caricatura do gay afetado ao máximo, perdendo a colocação de homossexual e ganhando caráter humorístico. Distorcendo a realidade, afinal, nem todo gay é humorista. Quando questionado sobre a temática e o curso, Gabriel responde, “Ao contrário do que muitos pensam, o curso de publicidade e propaganda (da PUCC) faz questão de levantar assuntos deste nível, como o consumo do público gay, suas ideias e desejos como consumidor. Já realizei atividades em que deveria interpretar campanhas sociais sobre a homofobia por exemplo”. O que é gera um status positivo e otimista, fazendo o aluno pensar que há pessoas pensando no futuro e tentando adaptar e moldar essa profissão para a nossa realidade.
Editado por Paula Fonseca