Por Natália Mitie
Uma pesquisa realizada pelo Estadão Dados em 2013 aponta que a cada 40 minutos, uma brasileira se submete a mastectomia, cirurgia de retirada das mamas, cujo procedimento é o mesmo que Angelina Jolie fez. Desde 2008, foram realizadas 65,3 mil cirurgias pelo SUS. O estudo revela além do aumento de mastectomias, a influência da mídia no comportamento dos pacientes. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) afirma que seus afiliados têm relatado o dobro da procura pela cirurgia após a revelação da atriz.
Um estudo americano publicado na revista “JAMA Surgery” em maio deste ano, revela que 70% das mulheres que optam por fazer uma dupla mastectomia após serem diagnosticadas com câncer de mama, não têm indicação clínica para fazer o procedimento. Apenas 30% das mulheres realmente apresentam recomendação cirúrgica por carregarem um histórico familiar da doença ou mutação genética que determina maior risco do câncer vir a aparecer nas duas mamas. Ou seja, somente esse pequeno grupo apresenta evidências científicas de que a retirada dos dois seios é benéfica.
Há exatamente um ano, Lélia Ramos, 52, optou pela cirurgia. Com um histórico de câncer nas duas mamas em 2005, e um novo tumor nascendo em 2013, ela entrava no protocolo de indicação da mastectomia bilateral. Determinada com a decisão, não queria correr o risco de ter a doença novamente. “Já tive meus filhos, já amamentei, já fiz tudo o que tinha que fazer”, conta. Resistentes, os médicos acreditavam que por ser uma cirurgia agressiva pelo procedimento de retirada da mama, a paciente poderia apresentar trauma psicológico no pós-cirúrgico.
Lélia diz não ter tido problemas psicológicos e emocionais, o que mais importava para ela naquele momento era o retorno às atividades normais e uma perspectiva de vida mais segura. “A possibilidade de um novo câncer de mama assusta bastante. Para mim o mais importante era estar saudável, nunca pensei em coisas negativas, sempre me apego ao positivo”, acrescenta.
Indicações e riscos
O mais importante para Luís Henrique Ishida, diretor da SBCP, é deixar bem claro que existem indicações específicas para que a mastectomia profilática seja feita. Cada situação deve ser estudada individualmente. No caso de Angelina Jolie, a cirurgia foi realizada pois ela apresentava um marcador tumoral, o BRCA 1 positivo, que a torna mais predisposta ao câncer de mama, com aproximadamente 50% de chance de desenvolver a doença. Além disso, a atriz tinha o fator de antecedentes familiares, parentes de primeiro grau, que desenvolveram a doença antes da menopausa, outro fator de risco. “Sempre levantamos o questionamento para a paciente, se é realmente a escolha mais segura ou não”, diz.
Com tendência crescente no número de mastectomias, é questionável a eficiência do método, em medida que o procedimento apresenta muitos riscos de complicação e, por isso, a decisão deve ser feita de forma multidisciplinar, com o mastologista, oncologista e cirurgião plástico. No entanto, cabe à paciente, a palavra final.
Editado por Aquiles Farinha