Modernidade “aposenta” algumas profissões

Por Priscila Carvalho

Com o passar dos tempos novas profissões se criam e outras se perdem. É o que acontece com sapateiros, alfaiates e feirantes que com a modernidade estão vendo diminuir o número de novos profissionais. Com a facilidade e comodidade dos hipermercados, as pessoas estão deixando de ir às feiras e para comprar apenas nos mercados. Grande parte dos frequentadores das feiras são pessoas mais velhas, sendo que há muito poucos clientes jovens que ainda frequentam assiduamente as feiras livres.

Feirante há 20 anos, Luiz Antônio Costa afirma que a sua clientela fixa é composta basicamente por idosos, que mesmo com as facilidades atuais, não perderam o hábito de fazer feira. O lucro antes vinha apenas das feiras, mas atualmente o comerciante tem que compor a sua renda revendendo ovos aos mercados, lanchonetes e empresas alimentícias. “Hoje apenas 30% da minha renda mensal vêm do lucro da feira, a parte restante é composta das vendas aos mercados.” Nos últimos seis anos, Costa afirma que a feira decaiu cerca de 50% e os lucros também diminuíram. “Fica difícil ser feirante nessa situação, por isso comecei vender aos mercados, mas não pretendo abandonar a profissão, pois com toda a dificuldade não sei fazer outra coisa.”

Milton Roberto Perosin, presidente do sindicato dos Feirantes de São José do Rio Preto, afirma que a feira é um grande ambiente familiar voltado para servir o cliente. O sindicato, junto com a prefeitura, fez um projeto chamado “Viva Feira, Feira Viva”, na qual empresas patrocinaram a troca das lonas das barracas. Com o projeto houve uma padronização e agora as barracas são definidas por cores numa forma de diminuir a poluição visual e facilitar a localização para o cliente. As barracas de comidas e bebidas têm lonas na cor vermelha, frutas na cor amarela, verduras e legumes as barracas tem a cor verde e armarinhos e brinquedos são identificados pela cor azul.

Confira um trecho da entrevista com o feirante Milton Roberto Perosin

Outro exemplo de profissão em extinção é o sapateiro. Ele não é mais aquele que fabrica calçados, mas sim quem os conserta. O profissional visto como o fabricante de sapatos está praticamente extinto e os pares sob medida, definitivamente passou a ser coisa do passado. A razão de tal extinção se deve a industrialização e produção em série, na qual muitos preferem comprar um novo par de sapatos do que levar o antigo para o conserto, com isso a profissão não tem atraído novos profissionais, ficando restrita aos antigos trabalhadores nessa área. Elionai Mataragia é sapateiro há 36 anos e não reclama de fazer parte de um grupo de sapateiros que vem diminuindo com o passar dos tempos, ele até ironiza e comemora. “Agora vai sobrar mais trabalho para mim e eu saio ganhando com isso”. De acordo com o sapateiro, ele conserta em média cerca de 400 pares por mês e desse montante, 60% são sapatos femininos.

As profissões estão muito ligadas à economia e só são geradas de acordo com a utilidade que elas têm no meio social, o trabalho decorre de uma utilidade econômica. Segundo o economista Antônio Carlos Lobão as profissões surgem de acordo com a organização e o avanço tecnológico de uma sociedade, que estão em constantes mudanças. “No capitalismo as mudanças no processo de produção são muito rápidas e faz parte do sistema as inovações, o que acaba influenciando na durabilidade de certas profissões.”

O alfaiate João Gouveia que tem 64 anos de profissão sente esses efeitos. Com as linhas de produção tão ágeis e sistematizadas, o terno que Gouveia leva duas semanas para finalizar de modo artesanal e sob medida, as confecções levam apenas um único dia para produzi-lo e poder comercializá-lo. No final as empresas acabam ganhando pela maior quantidade de peças a serem comercializadas do que o alfaiate, que preza pela perfeição, mas perde na quantidade. “O que mata o alfaiate é a indústria, enquanto eu corto uma calça para fazer, lá eles já cortam mil.”

A relevância dessas profissões mudaram ao longo do tempo, mas não são exercidas da mesma forma que eram anos atrás devido as transformações que a sociedade sofre com o tipo de sistema que vivemos. De acordo com o economista Antônio Carlos Lobão o que importa no capitalismo não é ver como ele se mantêm, mas sim como ele se transforma.

Mas mesmo com as mudanças o que não falta para esses profissionais em extinção é o amor pelo o que fazem e o orgulho da profissão que exercem. “Sou feliz como alfaiate e tenho orgulho de fazer parte de um seleto grupo de profissionais que ainda resiste às mudanças.” conclui Gouveia.

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