Gisleine Monique
Mais dois alunos do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, assumiram o posto de jornalistas na noite do dia 6 de novembro. Os alunos são Erik Nardini Medina e João Carlos Solimeo, que apresentaram como tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), um ensaio fotográfico sob o tema ‘Augusta 60 quadros’. Nesse ano, são cinco os projetos experimentais em fotojornalismo.
A dupla escolheu retratar em fotolivro os olhares sob a rua Augusta, uma das mais importantes da capital paulista. Conhecida por atrair multidões que vão se divertir nas boates, baladas, bares, restaurantes, casas de prostituição e outros estabelecimentos.
“Nós decidimos pela rua Augusta por ela ser uma das mais ricas em termos culturais do estado de São Paulo. Foi reduto de boêmios e intelectuais entre os anos 50 e 70, inspirou músicas da Jovem Guarda e era o centro de compras mais famoso da cidade antes da chegada dos Shopping Centers, na década de 80”, explicou Solimeo.

Sob a orientação do professor Nelson Chinalia, os alunos mostraram os contrastes entre dia e noite na Augusta e, também as desigualdades que lá se encontram. Com olhares distintos, os estudantes produziram uma média de duas mil fotos. Sob forte influência da arte e do cinema, Solimeo retratou as fachadas, grafites e vitrines, enquanto Medina deu destaque ao trabalho infantil.
Foram seis viagens a São Paulo, totalizando em aproximadamente 1200 quilômetros rodados e sete meses de dedicação. Para compor o livro de 74 páginas os alunos optaram por exibir 30 fotografias autorais de cada um.
Para Solimeo que utilizou uma câmera Canon T2i e optou por fotografar sem flash, o processo de edição do livro foi uma árdua tarefa. Ele conta que a primeira vez que foi a Augusta clicou 510 vezes.
“A principal dificuldade do projeto foi definir o foco e restringir os temas. Tem de tudo na Augusta, de prostitutas a lojas de luxo, e foi complicado saber o que exatamente iríamos fotografar em mais de três mil metros de rua”, disse Solimeo.

Crítica
A banca examinadora foi composta pelos professores Amarildo Carnicel e Anaísa Catucci, que criticaram duramente o trabalho da dupla.
Para Carnicel, esse é o tipo de trabalho que não pode ser considerado como ensaio fotográfico, pois trata-se de fotografia documental em que os fotógrafos parecem ser um cronista do cotidiano. Ele explica que os alunos que optam por fazer um ensaio fotográfico são ousados, pois é preciso muitos anos de profissão para chegar a uma qualidade de ensaio.
Além disso, o professor chamou atenção para alguns pontos como a falta de explicação para o nome do livro ‘Augusta 60 quadros’, a pouca desigualdade retratada e o projeto gráfico da obra.
Segundo Nelson Chinalia, o trabalho feito pelos alunos é sem duvida um ensaio fotográfico, pois é um trabalho autoral. “Esse livro só pode ser autoral e se é autoral é ensaio”, explicou Chinalia.
Questionado sobre a orientação do professor ao longo do desenvolvimento do projeto, Solimeo afirma: “O Nelsão é um bom fotógrafo e serviu de inspiração durante o curso. Como orientador, às vezes ele estava mais nervoso do que nós, mas deu tudo certo no final”, disse ele.

Assista ao vídeo abaixo e conheça um pouco sobre o trabalho da dupla que pretende comercializar o livro e expor a mostra fotográfica em Campinas.
Editado por Andressa Cruz
Obrigado por cobrirem a apresentação. Quanto às críticas, algumas considerações: houve uma pré-banca em setembro em que o primeiro capítulo do relatório foi julgado pelos professores Celso Bodstein e Ciça Toledo, além do orientador. Bodstein foi categórico ao afirmar que nosso trabalho era um ensaio e sugeriu pesquisarmos sobre “flanêur”, um termo vindo da literatura francesa no século 19 e, mais tarde, apropriada por fotógrafos. O livro, quando pronto, foi visto por Bodstein que achou o trabalho excelente. O caso é que, chegada a banca final, nem Ciça Toledo nem Celso Bodstein estavam lá, sendo substituídos por Amarildo Carnicel e Anaísa Catucci. Havíamos sido informados de que pelo menos um professor da pré-banca estaria na banca final, e preparamos o relatório segundo as orientações desta pré-banca. As críticas duras, assim, foram feitas por dois professores que não foram os mesmos que orientaram as mudanças e o rumo a ser seguido durante o trabalho, o que, a meu ver, é bastante injusto. O professor Amarildo, com quem sempre tive uma ótima relação, chegou a declarar que “alunos do 4º ano não estão preparados para fazer um ensaio fotográfico”. O professor que me desculpe, mas se assim fosse verdade por que a modalidade existe? Fora o fato de que, de certa forma, foi uma crítica ao nosso orientador, Nelson Chinalia, que em Foto A e Foto B nos ensina a fazer ensaios e nos cobra trabalhos sobre isso. Estou com quarenta anos e fotografo desde os sete anos de idade. De qualquer forma, o livro recebeu elogios de vários outros professores, alunos e fotógrafos, e pretendemos seguir em frente com o projeto. Obrigado.