Mídias investem na construção do consumidor saudável

Para a pesquisadora, grande parte das pessoas que praticam exercicíos físicos, os consideram um investimento sobre si mesmas.

Por Jéssica Bueno

Uma pesquisa realizada pela Psicóloga e Doutora em Sociologia, Isleide Arruda Fontenelle, para a ESPM, aponta que as mídias de negócios estão investindo na construção do consumidor saudável. Esse comportamento está atrelado à ideia do consumo como investimento, ocasionada pelas mudanças causadas pelo capitalismo no modo de agir e pensar da sociedade.

Para o estudo, Fontenelle analisou as matérias publicadas na revista EXAME e Business Magazine em um período de onze anos, e descobriu que quando o assunto era consumo sadio, as revistas não tratavam de questões do meio ambiente, como esperava, mas vendiam a ideia de que trabalhadores preocupados com o bem-estar físico e mental têm mais chances de sucesso.

A Doutora explica que estes veículos se encaixam no conceito de “mídias de negócios” porque remetem aos meios de comunicação social que espelham o mundo corporativo, ou seja, trabalham com informações de negócios e economia, aproximando o leitor das marcas e das ações de marketing do mercado.

Ela também enfatiza que a intenção desses veículos é, desde o início, romper as fronteiras entre trabalho e consumo. Para isso, escondem-se atrás do discurso de que o consumidor saudável é um empreendedor de si mesmo, capaz de gerir sua vida profissional e pessoal. “O trabalhador acredita, firmemente, que, ao investir suas capacidades, habilidades e competências em algum empreendimento, obterá o retorno, como qualquer outro investidor.”

De acordo com a socióloga eslovena Renata Salecl, citada por Fontenelle, esse pensamento da autoconstrução do eu é o que sustenta a sociedade de consumo, pois as pessoas realmente acreditam que terão sucesso se sentirem que têm controle de si mesmas. “A ideia de que supostamente somos capazes de nos administrar, e que existe uma escolha sobre como lidamos com nossas emoções, está ligada à percepção do eu que domina a sociedade no capitalismo tardio”, afirma a socióloga.

 

Editado por Natália Beraldi

2 comentários

  1. O texto comenta algo bastante atual, como o fato de nos sentimos vitrines de nós mesmo e como isso afeta nossos habitos e a forma como nos vemos e como somos vistos. POis somos o tempo todos etiquetados pela sociedade a apartir do que consumimos…

    .

  2. Poucas pessoas interpretam a sociedade de hoje como algo que lhe traz benefícios e desvantagens, ao tempo que enquanto se investe em você, está intimamente investindo nos outros. Estas são sufocadas por um mundo que não mede esforços para atingir metas e objetivos.

    A ilusão de controle da situação individual torna a sociedade a única ferramenta de movimentação capitalista, cuja necessidade de mostrar-se e conquistar territórios depende da posição deste indivíduo no contexto em que se encontra.

    Quando se investe em algo, estas pessoas procuram unir-se em ‘tribos’, reforçando os comportamentos semelhantes e assim facilitando a ação capitalista, dando a ideia de que estão atuando individualmente e tendo total controle de suas atividades mesmo que convivam em grupos.

    A preocupação com o próprio interesse destrói realidades e objetivos conjuntos. Enquanto se busca melhorias pessoais, atua-se com todo o ambiente em que estas melhorias estão ligadas, e se um lado está ganhando, certamente outro está ganhando muito mais. Então quem realmente está perdendo?

    O mundo contemporâneo é feito de muitas pessoas que tem medo de pedir ajuda ou mesmo aceitar ajuda, mas acreditam que ‘investindo em suas qualidades e competências’ estarão conseguindo tomar decisões sem influência de outros.

    Um grande erro! Senão o único à minha visão…

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