Clara Friedrich
Em entrevista ao Digitais, o ativista e Coordenador do Identidade – Grupo de Ação Pela Cidadania Homossexual de Campinas Paulo Tavares Mariante afirmou que é falso o pressuposto de que pessoas mais jovens e com maior nível de educação seriam menos preconceituosas. Pensando neste tema, o Digitais abordou estudantes homossexuais de várias universidades públicas e particulares de Campinas.
Depois de três semanas de pesquisa, o Digitais verificou que os casos de homofobia são frequentes e variam entre agressões físicas, verbais e psicológicas. O caso mais comum apurado é o afastamento de amigos e familiares, seguido da agressão verbal e física. F.G., estudante de Engenharia, relatou já ter passado por situações bastante críticas: “Quase apanhei em uma festa da faculdade, quando fui cercado por 8 caras.” Apesar das circunstâncias vividas, F.G. teve respostas positivas quando se assumiu homossexual e mantém as esperanças de que o preconceito diminua. “Também tive provas do contrário, de pessoas que se deram muito bem comigo sem se preocupar com minha orientação sexual, pessoas que se divertem comigo e me acompanham sempre em baladas GLS.” Infelizmente, o caso de F.G. é incomum.
A falta de denúncias

De acordo com Mariante, os casos de agressões contra homossexuais não vêm à tona. As formalizações de denúncia são raras e portanto os índices desse tipo de violência são incompatíveis com a realidade. “Mas isso muda completamente quando há o envolvimento com a causa, quando se associa a um grupo que passa pelas mesmas situações.” Comprovando esta afirmação, o estudante A.B. relatou que foi agredido dentro de uma universidade em 2007. O caso começou com provocações diárias. Um dia, a violência foi física. “Não registrei boletim de ocorrência, já que não queria que o problema ganhasse proporções. Se fosse hoje, agora que me envolvi com a militância da causa gay, faria um estardalhaço.”
O preconceito além do racional
O caso de A. R., estudante de uma universidade pública de Campinas, merece ser compartilhado:
“Foi em 2007. Estava em uma reunião da faculdade com outros alunos. Estava com fome e havia comprado um pedaço de bolo e, durante uma pausa da reunião, resolvi comer. Enquanto comia, percebi que um dos alunos me observava de longe, como se quisesse também um pouco do bolo. Muito educado, me aproximei do garoto e ofereci um pedaço. Ele me olhou assustado, ficou estranho e pensativo por alguns segundos (agindo como quem não soubesse o que disser e/ou como agir) e, com uma voz engasgada, disse que não queria. Eu achei estranho, porém a fome e a tensão da reunião não me fez pensar muito sobre o ocorrido.
Tempos depois, me tornei amigo deste menino e, em uma conversa no ano passado ele me confessou que naquele dia ele realmente queria comer um pedaço do bolo, mas não aceitou pois ficou com receio de comer o bolo e pegar Aids ou outra DST, visto que eu era conhecidamente gay. No momento que ele contou eu não soube como reagir, fiquei paralisado pensando como no meio universitário ainda haveria pessoas com pensamentos tão preconceituosos. Conversei com o garoto por horas sobre as formas de contrair DSTs e o rapaz, apesar de afirmar conhecimento de todas as informações referentes aos métodos reais de contágio, disse não se sentir à vontade em dividir algum alimento com um gay, mesmo sendo de um amigo gay, como eu.”
A omissão das universidades
Segundo Mariante, o preconceito está enraizado na cultura dos jovens estudantes. Eles herdariam o pensamento dos pais e o trariam para dentro do ambiente estudantil, onde as minorias acabam por sofrer as consequências de pensamentos retrógrados. Além disso, o ativista lamentou a pouca intervenção das universidades com a causa. “Não há combate à essa violência. As reitorias ignoram o problema como se ele não existisse, em vez de instituir medidas punitivas e educativas para a prevenção do preconceito”
G.O., também estudante universitário, compartilhou um trauma com os Digitais: De acordo com ele, em uma aula sobre relações de gênero, uma colega levantou-se, ofendida, e disse que a homossexualidade não era assunto válido para ser discutido dentro de um ambiente acadêmico, já que iria contra os valores da instituição e dela mesma. Mesmo com a contra-argumentação da professora e de G.O., a estudante deixou o ambiente. Ele relata: “Isso pra mim foi um desapontamento… Como a sexualidade humana não é discutível dentro de um curso de Humanas?”
A influência da religião
A religião está intrinsecamente relacionada ao preconceito, relatou Paulo Mariante. No entanto, o coordenador afirmou que as crenças particulares podem e devem conviver em harmonia com diferentes sexualidades: “O importante é que se tenha respeito. Todos têm o direito de acreditar no que quiserem, desde que não humilhem ou ofendam a integridade de outros”. Um exemplo disso é Alex Souza, de 22 anos. Ele é hétero e tem opinião formada sobre a homossexualidade:
“Não sou a favor, porque sou a favor da família, e vou de acordo com o que Deus criou. Dentro do ser homem existe a essência masculina, e dentro da mulher há a essência feminina , que se completam. Mas nem por isso eu odeio, quero matar ou brigar com uma pessoa se ela não tem a mesma orientação que a minha. Respeito é fundamental em tudo na vida.”
Confira um trecho do bate-papo sobre o tema com o ativista:
Editado por Ingrid Emerick
Ser homossexual não é e nunca foi opção , quem por escolha , optaria pelo sofrimento ?Não é um tema fácil e a palavra para tal é TOLERÂNCIA pois em uma sociedade que julga o tempo todo , todos temos algo ( negro , branco , pardo , loiras , velhos , gordos , magros, altos , baixos , etc,etc,etc,) para sermos vítimas de preconceito . Valeu o alerta !
Gente, eu optei por ser homossexual…antes eu achava que todos nasciam gays etc… mas dá pra optar numa boa, é só ter cabeça aberta…e qual o problema em optar??? o importante é ser feliz!
Não acho que “orientação” sexual seja o termo certo, precisa avisar o Alex. Ninguém é “orientado” a ser homossexual. A pessoa NASCE homossexual e não é possível “optar”. E não é aceitável odiar ou ser contra a homossexualidade, uma vez que não é aceitável ser contra a “opção” de ser humano.
Ser a favor da família não tem nada a ver com isso. Existem familias compostas por duas mães, outras compostas por dois pais, outras ditas “normais”. Existem familias com filhos homossexuais. Familia é familia, seja ela tradicional, louca, misturada ou italiana (heheh). O fato é que não há nada diferente entre todos nós, humanos. Há, sim, muito em comum. Basta olhar com os olhos e não com o preconceito.
Nota: A matéria foi produzida com o auxílio de grupos fechados no facebook onde pude contatar homossexuais universitários que se disponibilizaram a me contar experiências vividas.
Os personagens que não quiseram ser identificados ainda lutam com o preconceito dentro de seus lares e ambientes profissionais e estudantis, e, portanto, preferiram por não expor sua sexualidade abertamente.
Ninguém é obrigado a gostar de homossexuais ou aceitar o homossexualismo como sendo algo normal. Se os homossexuais querem respeito, comecem por respeitar os outros também. Discriminação todo mundo sofre. Vamos deixar esse coitadismo hipócrita.
Ninguém é obrigado a gostar de heterossexuais ou aceitar o heterossexualismo como sendo algo normal. Se os heterossexuais querem respeito, comecem por respeitar os outros também. Discriminação todo mundo sofre. Vamos deixar esse coitadismo hipócrita.
é bem diferente quando você tenta ver o lado do outro. Bom Senso e respeito é oque falta nessa sociedade…
Preconceito contra homossexuais? Quer ver preconceito e intolerância? Assista a esse vídeo aqui:
Respeite mais cada um tem seu geito.