Com pouco mais de um mês desde o início das aulas, José Gustavo Gomes, 17 anos, começa a se adaptar à rotina universitária. Calouro do curso de economia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, ele encara 40 quilômetros de estrada entre Americana a Campinas. Desde o ensino médio José mora e estuda em lugares diferentes, e por isso a viagem diária já não o incomoda. “A rotina da universidade é bem menos cansativa do que na época do colegial, pois estudava em período integral, então a adaptação não foi difícil”, declara.
Adaptação à parte, José Gustavo Gomes gasta 260 reais de ônibus por mês e viu que estar em uma universidade demanda compra de livros e fotocópias. “Eu imaginei que haveria muito menos xerox do que realmente tem. O conteúdo pra ler é muito grande, então acabo gastando uma boa quantia na compra destes materiais”, diz.
A realidade de estudar em outras cidades, por exemplo, atinge mais da metade dos alunos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Conforme dados de 2002, cerca de 60% dos concorrentes eram moradores do interior de São Paulo. A conurbação da Região Metropolitana de Campinas é ponto positivo para aqueles que querem estudar na cidade. A RMC possui amplo sistema viário que interliga as 19 cidades da região, distribuída em um espaço de 3.647 km².
Morar fora
Priscila Jordão, 19 anos, é natural de Sorocaba e também escolheu Campinas para complementar seus estudos. No segundo ano do curso de jornalismo da PUC-Campinas, ela conta que a parte mais difícil de morar sozinha é a saudade dos pais. “Eu fico triste quando não volto para casa, já que eu fico sozinha aqui e meus pais sozinhos em Sorocaba”, conta.
Ainda segundo informações da Unicamp, os outros 40% dos concorrentes no vestibular da universidade são da cidade de São Paulo e de outros estados. E para morar em outro local, longe dos pais, é necessário mais do que coragem. A conta de luz em Campinas subiu 2,61% no último domingo e o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), que regula dentre outras coisas o preço do aluguel, fechou março em alta de 0,43%, apesar de estar estabilizado. O preço médio de uma moradia próximo à Unicamp e Puc-Campinas é de 800 reais por mês.
Levantamento do Guia do Estudante demonstra que uma pessoa decidida morar em Campinas gasta em média R$ 570/mês. Caso a moradia seja longe da faculdade, ele ainda tem que desembolsar 120 reais para transporte. Esse não é o caso de Priscila, que decidiu morar sozinha e precisa arcar com os custos. Em média, a estudante paga 740 reais por mês com a kitnet, localizada em frente à universidade, energia elétrica e internet. Para se alimentar e poder frequentar as festas, parte da cultura do estudante em ensino superior, Priscila ainda recebe R$ 100,00 por semana.
Durante o mês este gasto chega a R$ 1.268. Em uma comparação simplificada, José Gustavo Gomes tem um custo 79% mais barato quando opta por ir e voltar todo dia de Americana. O que compensa mais? O economista do Prime Instituto de Economia e Informação Jorge Meschiatti não soube responder. “Isto implica no todo das despesas, no tempo e praticidade, ou seja, mora distante por preço mais barato tem seu preço que é o tempo de deslocamento, horas perdidas de estudo e lazer. Esta questão merece pesar de forma coerente, por exemplo, grupos de alunos que moram distante e numa mesma região podem ser cooperativos com os que possuem carros, poupando tempo de deslocamento e custo de transporte”, afirma.
Custos

Uma família compromete 31,6% da renda mensal com o pagamento de dívidas, 40% é relativo aos tributos diretos e indiretos, e somente 28,40% do orçamento para outras necessidades. Para o economista, a família precisa ter uma renda de, pelo menos, 17 salários mínimos para manter um filho estudando fora de casa. “Se a renda de uma família for de R$ 10.000,00 sobram somente R$ R$ 2.840,00 para comer, morar, transporte, água, luz e outras coisas mais da família. Sendo assim, para que se proporcione um mínimo de condições para o filho que mora em outra cidade e que não tenha trabalho e só estude, a renda familiar tem que ser superior a R$ 10.000,00 mensais”, contabiliza.
O preço da conta de luz teve acréscimo de 2,89% em abril. O transporte público passou de R$ 2,85 para 3,00 reais – aumento de 5,26%, o estudante universitário não possui direito ao bilhete escolar (que hoje custa R$ 1,14) e ainda precisa encarar o atraso constante dos ônibus. O índice que regula o aluguel, apesar de estável, teve pequena alta em março fechando o mês em +0,43%. Nas proximidades das duas principais universidades de Campinas, o preço médio de uma kitnet é de R$ 800,00, algo que na visão de Meschiatti caracteriza-se como especulação imobiliária. “Vivemos em um sistema capitalista vampiresco, é tácito que o proprietário do imóvel não utiliza seu bem para fins produtivos ou habitacionais, fazendo com que se retire a probalidade de fazê-lo de outras pessoas com menor poder aquisitivo”, critica.
O preço das fotocópias dos estabelecimentos da Puc-Campinas custa 0,12 centavos a folha e na Unicamp R$ 0,07. Não bastasse isso, pesquisa demonstrou que o preço médio do livro científico no Brasil é de R$ 38,02 no ano de 2006, com 12.081 títulos no mercado. Para diminuir os gastos, os sebos sempre são opções opções mais baratas. Estudo da Estante Virtual, sebo on-line, mostra que livros universitários chegam a ter um preço 94% menor se comprado à compra nas livrarias convencionais.
Campinas
A Unicamp possui 36,8 mil pessoas cursando ensino superior e a PUC-Campinas cerca de 20 mil. As duas instituições, juntas, abrigam quase todos os universitários na cidade, visto que o número absoluto em Campinas é de 67,2 mil pessoas, segundo informações de 2010 da Agemcamp (Agência Metropolitana de Campinas). Um dos pólos tecnológicos do país, 50 das 500 maiores multinacionais do mundo estão instaladas na região.