Por Fabiana Oliveira
Música, cinema, grafite, dança e debate atraíram desde visitantes de Campinas e região até noruegueses para o 5º Festival Flaskô de Cultura, na cidade de Sumaré, marcando os onze anos de controle operário sobre a fábrica. O festival aconteceu nos dias 29, 30 e 31 de agosto.
Cris Gonçalves é de Marília e soube do evento através de um grupo em uma rede social. Para ela, a luta da Fábrica Ocupada Flaskô não está isolada, é parte de um esforço de ocupar espaços e conquistar direitos. “A gente de alguma forma é sujeito disso aqui também. A gente está no quarto movimento de ocupação por moradia na UNESP. Estamos ocupando salas de aula. Então, de alguma forma, também somos sujeitos disso aqui. A gente também compõe e quer de alguma forma ajudar a construir esses movimentos”, disse.
Ingrid Delage veio da Noruega participar de uma vivência política e educacional na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), universidade fundada pelo Movimento Sem Terra (MST), e está percorrendo o Brasil e outros países da América Latina para levar referências ao seu país. A ENFF fica em Guararema, interior de São Paulo. Ingrid e um grupo de quatro amigos aproveitaram o final de semana para conhecer a Flaskô e ela se disse encantada com a história que encontrou. “Nós estamos aqui para conhecer e estamos filmando e gravando para fazer uma divulgação da Flaskô e dessa cultura operária na Noruega. Nós participamos de organizações políticas na Noruega”.
O Senador Eduardo Suplicy também esteve presente no último dia do festival, fazendo uma fala de apoio a Flaskô. Suplicy é reconhecido como um companheiro dos trabalhadores da fábrica, por ter prestado solidariedade e feito parte do enfrentamento em momentos em que a fábrica foi alvo de sanções.
Além de utilizar a arte como forma de reflexão e crítica, como proposta do evento, o Festival Flaskô é marca da resistência dos trabalhadores. Mesmo passados onze anos desde que os empregadores declararam falência e os operários, unificados e lutando pela garantia dos seus direitos, ocuparam a fábrica de tambores plásticos, as represálias ainda não acabaram.
Exemplo disso é um episódio recente com a empresa fornecedora de energia da região, a CPFL. Em 2003, quando assumiram a Flaskô, os trabalhadores se depararam com uma dívida de aproximadamente R$ 700 mil reais de energia deixada pelos patrões. A dívida foi negociada e mais da metade dela já foi paga. Entretanto, no dia 26 de agosto, a CPFL se mostrou disposta a quebrar o acordo e interromper o fornecimento de energia da empresa.
Essa é só mais uma das batalhas que as 10 trabalhadoras e 60 trabalhadores da Flaskô precisam enfrentar. As ameaças de fechar a fábrica, especialmente pelas dívidas herdadas da falência declarada pelos empregadores, são constantes e o projeto de estatização tramita há anos no Senado.
Desde que assumiram o controle, os trabalhadores diminuíram as diferenças salariais entre eles, trocaram a jornada de 40 horas semanais por 33 horas e tomam decisões importantes através de assembleias.
Editado por Vanessa Dias